PF indicia Jair Bolsonaro e Eduardo por obstrução da Justiça, coação e atuação nos EUA

Atualizado em 20 de agosto de 2025 às 20:41
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Foto: Divulgação

A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. O inquérito envolve a atuação do parlamentar nos Estados Unidos, onde ele buscou apoio político e tentou articular sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A investigação é mais um desdobramento da série de processos que cercam Bolsonaro e seus aliados desde a derrota nas urnas em 2022. A apuração teve início em maio por ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator dos principais casos que investigam a rede bolsonarista.

Entre eles estão a ação penal da trama golpista, os inquéritos das fake news e o das chamadas milícias digitais. Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou indícios de que Eduardo articulava com o governo de Donald Trump sanções contra autoridades brasileiras em meio ao julgamento dos atos de 8 de janeiro.

Segundo a PGR, as condutas investigadas podem configurar crimes como obstrução de Justiça, coação no curso do processo e até tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito. Agora, com o indiciamento da PF, caberá à Procuradoria analisar se os elementos reunidos são suficientes para transformar a apuração em denúncia formal contra o ex-presidente e seu filho.

Em um áudio incluído no inquérito da Polícia Federal no indiciamento de Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por obstrução de Justiça, o ex-presidente afirma que as tarifas impostas por Donald Trump tinham como objetivo exclusivo garantir sua anistia.

O caso ocorre no mesmo momento em que Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, determinada por Moraes em 4 de agosto. O ministro entendeu que o ex-presidente havia descumprido medidas cautelares, impostas em julho, ao participar de manifestações bolsonaristas em Brasília.

Uma das restrições é justamente a proibição de contato com Eduardo, que vive desde março nos Estados Unidos com a esposa, Heloísa. Na mesma investigação, Moraes já havia bloqueado contas bancárias do deputado e de sua família, apontando indícios de movimentações financeiras relacionadas às atividades no exterior.

Eduardo, por sua vez, argumenta que a abertura do inquérito foi uma das razões para permanecer fora do país. O licenciamento de seu mandato terminou em julho, e desde o retorno dos trabalhos legislativos, em agosto, suas ausências passaram a ser registradas oficialmente.

Se continuar ausente, o deputado pode atingir em novembro o limite de faltas que permite a abertura de processo de cassação de mandato. No entanto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou que a contagem das faltas pode ser prorrogada para o próximo ano, após o recesso parlamentar.

A repercussão também chegou à opinião pública. Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20) mostrou que 69% dos brasileiros acreditam que Eduardo Bolsonaro atua em defesa de interesses próprios e de sua família, especialmente em relação à disputa sobre tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Para apenas 22%, sua atuação seria em defesa dos interesses do Brasil.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.