
A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. O inquérito envolve a atuação do parlamentar nos Estados Unidos, onde ele buscou apoio político e tentou articular sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação é mais um desdobramento da série de processos que cercam Bolsonaro e seus aliados desde a derrota nas urnas em 2022. A apuração teve início em maio por ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator dos principais casos que investigam a rede bolsonarista.
Entre eles estão a ação penal da trama golpista, os inquéritos das fake news e o das chamadas milícias digitais. Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou indícios de que Eduardo articulava com o governo de Donald Trump sanções contra autoridades brasileiras em meio ao julgamento dos atos de 8 de janeiro.
Segundo a PGR, as condutas investigadas podem configurar crimes como obstrução de Justiça, coação no curso do processo e até tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito. Agora, com o indiciamento da PF, caberá à Procuradoria analisar se os elementos reunidos são suficientes para transformar a apuração em denúncia formal contra o ex-presidente e seu filho.
Em um áudio incluído no inquérito da Polícia Federal no indiciamento de Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por obstrução de Justiça, o ex-presidente afirma que as tarifas impostas por Donald Trump tinham como objetivo exclusivo garantir sua anistia.
🚨 URGENTE
Em áudio divulgado pela PF do inquérito que indiciou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por obstrução de justiça, o ex-presidente deixa claro que as tarifas de Donald Trump tem como único propósito anistiar Jair. pic.twitter.com/QdjhZ8f9Yk
— William De Lucca (@delucca) August 20, 2025
O caso ocorre no mesmo momento em que Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, determinada por Moraes em 4 de agosto. O ministro entendeu que o ex-presidente havia descumprido medidas cautelares, impostas em julho, ao participar de manifestações bolsonaristas em Brasília.
Uma das restrições é justamente a proibição de contato com Eduardo, que vive desde março nos Estados Unidos com a esposa, Heloísa. Na mesma investigação, Moraes já havia bloqueado contas bancárias do deputado e de sua família, apontando indícios de movimentações financeiras relacionadas às atividades no exterior.
Eduardo, por sua vez, argumenta que a abertura do inquérito foi uma das razões para permanecer fora do país. O licenciamento de seu mandato terminou em julho, e desde o retorno dos trabalhos legislativos, em agosto, suas ausências passaram a ser registradas oficialmente.
Se continuar ausente, o deputado pode atingir em novembro o limite de faltas que permite a abertura de processo de cassação de mandato. No entanto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou que a contagem das faltas pode ser prorrogada para o próximo ano, após o recesso parlamentar.
A repercussão também chegou à opinião pública. Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20) mostrou que 69% dos brasileiros acreditam que Eduardo Bolsonaro atua em defesa de interesses próprios e de sua família, especialmente em relação à disputa sobre tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Para apenas 22%, sua atuação seria em defesa dos interesses do Brasil.