Malafaia orientou Bolsonaro a descumprir ordem de Moraes e usar redes sociais

Atualizado em 20 de agosto de 2025 às 21:32
O pastor Silas Malafaia ao lado de Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

A Polícia Federal apontou que o pastor Silas Malafaia atuou de forma direta para orientar Jair Bolsonaro a descumprir medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A informação consta em relatório enviado à Corte no âmbito da Petição nº 14129, investigação que apura tentativa de obstrução de Justiça relacionada à trama golpista de 8 de janeiro de 2023.

Nesta terça-feira (20), agentes da PF cumpriram mandado de busca pessoal e de apreensão de celulares contra o pastor no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. A medida foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, após a coleta de mensagens que demonstram o envolvimento do pastor na estratégia de manter Bolsonaro ativo nas redes sociais, em desrespeito às determinações judiciais.

De acordo com o relatório, Malafaia não apenas incentivava como também instruía Bolsonaro sobre horários específicos e canais adequados para retransmitir conteúdos políticos.

“Dessa forma, o dolo na conduta dos investigados restou evidenciado a partir do conjunto de ações previamente ajustadas e deliberadas, construídas de modo consistente e gradual, com a finalidade de alcançar interesses ilícitos, em clara tentativa de coerção de autoridades públicas e cerceamento do livre exercício dos poderes constituídos”, descreveu a PF.

Um dos exemplos citados ocorreu em 13 de julho, quando Malafaia enviou orientações sobre como Bolsonaro deveria se posicionar diante do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.

“Tem que pressionar o STF dizendo que se houver uma anistia ampla e total, a tarifa vai ser suspensa. Ainda pode usar o seguinte argumento: não queremos ver sanções contra ministros do STF e suas famílias. Eles se caqão (sic) disso! A questão da tarifa é justiça e liberdade, não econômica. Traz o discurso para isso!”, escreveu o pastor, segundo transcrição do relatório.

Mensagens enviadas por Malafaia a Jair Bolsonaro, segundo investigação da PF. Foto: Reprodução

Na avaliação da Polícia Federal, essa comunicação demonstra que Malafaia estava inserido em um planejamento articulado para confrontar o Supremo e tentar influenciar a opinião pública contra decisões da Corte. A insistência para que Bolsonaro vinculasse temas de política internacional, como tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, ao discurso de “liberdade”, reforça o caráter político das mensagens.

As medidas cautelares impostas pelo STF determinavam que Jair Bolsonaro não poderia utilizar seus perfis pessoais em redes sociais nem se comunicar por meio de terceiros, como filhos, assessores ou aliados políticos. Além disso, o tribunal havia determinado o uso de tornozeleira eletrônica.

O descumprimento dessas regras levou Moraes a decretar a prisão domiciliar do ex-presidente, que continua em vigor até o julgamento da ação penal sobre a tentativa de golpe, marcado para setembro. Para os investigadores, as mensagens de Malafaia são prova de que o pastor participou ativamente da estratégia para burlar a decisão do Supremo.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.