
Por Leonardo Sakamoto
A Polícia Federal acredita que Eduardo Bolsonaro tentou “ludibriar o governo dos Estados Unidos para atingir seus objetivos criminosos”. A avaliacão está no relatório em que indiciou Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentar obstruir o julgamento por tentativa de golpe de Estado no qual o ex-presidente é réu.
Em mensagem recuperada no celular de Jair, Eduardo enviou uma imagem afirmando: “torce para a inteligência americana não levar isso aqui ao conhecimento do Trump”. A imagem não pode ser recuperada pela PF.
O relatório da PF concluiu que Jair e Eduardo atuaram em “unidade de desígnios”, coordenando narrativas, discursos e publicações, inclusive em inglês, para enganar autoridades estrangeiras e coagir ministros do STF. Para os investigadores, a estratégia tinha como fim último garantir a impunidade do ex-presidente no processo que apura a tentativa de golpe de Estado e a abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
A Polícia Federal ressalta ainda que as ações dos investigados não só colocaram em risco a independência do Judiciário, mas também geraram impactos econômicos e diplomáticos significativos ao país. “Constata-se portanto, que os investigados atuaram com consciência e vontade no intuito de convencer autoridades governamentais estrangeiras, induzindo-as em erro, para aplicar sanções contra o Estado Brasileiro e autoridades nacionais constituídas, de forma a satisfazer interesses pessoais ilícitos”, registra o relatório.
O relatório também aponta que o pastor Silas Malafaia, organizador de atos de protesto contra o STF, vem atuando “na definição de estratégias de coação e difusão de narrativas inverídicas, bem como no direcionamento de ações coordenadas que, em última instância, visam a coagir os membros da cúpula do Poder Judiciário, de modo a impedir que eventuais ações jurisdicionais proferidas no âmbito STF possam contrapor os interesses ilícitos do grupo criminoso”.

Quebra-pau entre filho e pai
Na mesma conversa citada acima, realizada na noite de 15 de junho, uma hora antes do “ludibriar”, o deputado federal havia enviado um “VTNC [vai tomar no seu cu] seu ingrato do caralho” para Jair após ler uma entrevista que o ex-presidente concedeu ao portal Poder 360. “Ele [Eduardo Bolsonaro] apesar de ter feito 40 anos de idade agora, né… Ele não é tão maduro assim, vamos assim dizer, talhado para a política… Tá bem. Ele acerta 90% das vezes, 9% quando meio e 1% está errando”, disse.
As mensagens demonstram preocupação do deputado com as declarações do pai sobre ele, que acalenta o sonho de ser candidato à Presidência da República em 2026, e o apoio que ele vinha dando, na opinião de Eduardo, ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e na forma como isso refletiria em sua situação política nos Estados Unidos.
Segundo a PF, “o investigado temia que as declarações impactassem negativamente sua posição e suposta influência no exterior, podendo ‘decretar o resto da sua vida’ nos EUA. Aliás, ele se referiu de forma pejorativa ao país onde está, chamando-o de “nesta porra aqui”.
As rusgas foram contornadas após Jair fazer declarações mais favoráveis ao filho em um pronunciamento. No dia 16 de julho, Eduardo pediu desculpas: “Estava puto na hora”. Pouco depois, publicou mensagem pacificando a relação com Tarcísio, numa tentativa de recompor a imagem pública.
Publicado originalmente no Uol