
Nesta sexta-feira (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os países ricos por usarem o combate ao desmatamento como justificativa para medidas protecionistas e o enfrentamento ao crime organizado como argumento para interferir na soberania de nações em desenvolvimento. As declarações foram feitas em Bogotá, capital da Colômbia, durante a Cúpula dos Países Amazônicos, em encontro com representantes da sociedade civil.
No evento, Lula afirmou que nações industrializadas, historicamente responsáveis por grande parte da poluição do planeta, tentam impor modelos que não atendem à realidade amazônica. O presidente ressaltou que o papel de combater ilícitos na região deve permanecer sob responsabilidade dos países que integram a região.
As declarações também foram uma resposta indireta à decisão do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que enviou navios militares para águas internacionais próximas à Venezuela, sob o pretexto de conter cartéis de drogas. A movimentação militar gerou desconforto entre governos latino-americanos, que consideram a medida um risco de ingerência externa.
Lula anunciou ainda que pretende reunir, no dia 9 de setembro, em Manaus, os presidentes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para inaugurar um centro de cooperação policial internacional. A estrutura deve reforçar o combate a atividades ilegais como garimpo, narcotráfico e contrabando de armas.
O presidente brasileiro também voltou a criticar Trump pela saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e pela postura unilateral em decisões que afetam o comércio e o clima. Segundo ele, não é possível construir governança global sem multilateralismo e sem considerar organismos como a ONU e a Organização Mundial do Comércio. Lula disse ter convidado o líder americano para a COP 30, que ocorrerá em novembro de 2025, em Belém (PA).
Ao comentar sobre a conferência do clima, Lula destacou que a escolha do Pará foi proposital para mostrar de perto a realidade amazônica a representantes estrangeiros. Afirmou não querer que o encontro seja apenas palco de discursos e defendeu a busca por decisões concretas sobre preservação e desenvolvimento sustentável.
Durante a COP 30, o Brasil pretende lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), que receberá contribuições de países, empresas e instituições. O objetivo é apoiar financeiramente iniciativas de conservação e garantir a proteção de florestas e comunidades tradicionais.
A OTCA é formada por oito países: Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O governo brasileiro insiste para que nações desenvolvidas cumpram promessas de financiamento a ações ambientais, cobrando o repasse de recursos já acordados em conferências anteriores.