
A canadense Valerie Zink anunciou sua saída da Reuters após oito anos de colaboração, criticando a postura da agência diante da guerra em Gaza, que classificou como “uma traição aos jornalistas” e um ato de “justificação e incentivo” ao assassinato de 245 profissionais na região.
“Chegou ao ponto em que é impossível manter qualquer vínculo com a Reuters diante de seu papel em justificar e permitir o assassinato sistemático de 245 jornalistas em Gaza”, declarou Zink na terça-feira, por meio da rede social X.
A fotógrafa atuava como freelancer da Reuters, com trabalhos publicados por veículos como The New York Times e Al Jazeera. Em sua manifestação, ela atacou a cobertura da agência após a morte de Anas Al-Sharif e de uma equipe da Al Jazeera, acusando a Reuters de dar legitimidade à “acusação totalmente infundada” de que Al-Sharif seria integrante do Hamas. Para Zink, isso faz parte de “incontáveis mentiras que meios como a Reuters repetiram e legitimaram”.
“Valorizei meu trabalho para a Reuters ao longo desses anos, mas hoje não consigo imaginar usar esse crachá sem sentir profunda vergonha e dor”, afirmou.
I can’t in good conscience continue to work for Reuters given their betrayal of journalists in Gaza and culpability in the assassination of 245 our colleagues. pic.twitter.com/WO6tjHqDIU
— Valerie Zink (@valeriezink) August 26, 2025
Segundo Zink, a decisão também reflete a indignação com a “disposição da agência em perpetuar a propaganda israelense”, algo que, segundo ela, não impediu que repórteres da própria Reuters fossem mortos nos ataques. Ao se referir aos jornalistas palestinos, descreveu-os como “os mais corajosos e dedicados que já existiram” e prometeu direcionar suas futuras contribuições para honrar essa memória. “Devo isso aos meus colegas na Palestina, e muito mais”, acrescentou.
Zink citou ainda a morte de outros seis jornalistas, incluindo o cinegrafista da Reuters Hossam Al-Masri, no bombardeio israelense contra o hospital Nasser, em Gaza. Segundo ela, o ataque seguiu o padrão conhecido como “golpe duplo”, quando um alvo civil — como escola ou hospital — é atingido e, após a chegada de equipes de resgate e imprensa, sofre novo ataque.
A fotojornalista também apontou a responsabilidade da imprensa ocidental, afirmando que veículos de peso — de The New York Times à própria Reuters — funcionam como “esteira de propaganda israelense”, ajudando a encobrir crimes de guerra, desumanizar vítimas e abandonar princípios éticos do jornalismo.
Para Zink, a repetição de “falsas narrativas genocidas” sem qualquer verificação contribuiu para que mais jornalistas fossem mortos em Gaza nos últimos dois anos do que em grandes conflitos globais combinados, além de agravar o sofrimento da população civil.
Com as mortes mais recentes, o número de jornalistas palestinos assassinados em ataques israelenses desde outubro de 2023 chegou a 246. No mesmo período, a ofensiva militar de Israel provocou a morte de mais de 62,7 mil palestinos e destruiu grande parte da Faixa de Gaza, onde já há registros de fome generalizada.
Em novembro passado, o Tribunal Penal Internacional expediu mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Paralelamente, Israel responde a um processo por genocídio na Corte Internacional de Justiça.