
A economista Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed), anunciou que vai entrar na Justiça para contestar sua demissão pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida foi confirmada por seu advogado, Abbe Lowell, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (25) e obtido pelo portal CNBC.
Segundo a defesa, Trump não tem autoridade para remover membros do Conselho de Governadores do Fed, cuja independência é garantida por lei. Ele justificou o afastamento alegando “justa causa”, com base em uma suposta fraude hipotecária que não resultou em denúncia formal.
“Sua tentativa de demiti-la, baseada apenas em uma carta de recomendação, não possui qualquer fundamento legal ou factual. Entraremos com uma ação judicial contestando essa ação ilegal”, declarou Lowell. Cook também reagiu em nota: “O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”.
A crise abre um impasse jurídico sobre a autonomia do banco central americano. Em 2020, a Suprema Corte flexibilizou a proteção de chefes de agências independentes ao permitir a demissão do diretor do Bureau de Proteção Financeira do Consumidor, mas ministros destacaram que o Fed ocupa posição única e pode ter salvaguardas adicionais.
Caso Cook permaneça no cargo durante a disputa judicial, o governo deve recorrer ao tribunal. Desde que reassumiu a presidência, Trump pressiona o Fed a reduzir os juros e já fez ataques públicos ao presidente da instituição, Jerome Powell.
Embora tenha cogitado afastá-lo, acabou recuando. Na semana passada, chegou a ameaçar Cook de demissão caso ela não renunciasse, após acusações de fraude feitas por uma autoridade de habitação de sua administração. A economista disse que não se deixaria intimidar.

Lisa Cook fez história em 2022 ao se tornar a primeira mulher negra nomeada para o Conselho do Fed, indicada pelo então presidente Joe Biden. Doutora em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley, e com passagem pela Universidade de Oxford, construiu carreira acadêmica e profissional de destaque.
Foi assessora econômica no governo Barack Obama, atuou no Departamento do Tesouro e participou de missões internacionais de recuperação, como em Ruanda após o genocídio de 1994. A trajetória de Cook sempre esteve ligada a pesquisas sobre desigualdade e impactos sociais da economia.
Fluente em cinco idiomas, ela investigou como discriminação racial e crises econômicas afetam comunidades pobres nos Estados Unidos. Ao assumir a cadeira no Fed, passou a defender políticas monetárias mais cautelosas diante da inflação elevada no período pós-pandemia.
Trump anunciou a decisão de afastá-la pelas redes sociais, citando supostas irregularidades no financiamento de imóveis. Segundo ele, Cook teria declarado duas residências como principais para obter condições melhores de crédito.
Até o momento, não há investigação formal que confirme a acusação. A defesa classifica o movimento como parte de uma ofensiva do republicano contra a independência do banco central.
O mandato de Cook vai até 2038. Analistas avaliam que a disputa pode levar outros diretores do Fed a resistirem a pressões políticas, transformando o conselho em um órgão ainda mais parecido com a Suprema Corte, em que os membros só deixam os cargos ao fim de seus mandatos ou quando há alternância de poder partidário.