Scott Bessent, que esnobou Haddad, lidera elite gay do governo Trump, diz New York Times

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 20:34
Scott Bessent e Donald Trump

Uma reportagem do New York Times desta terça (26) trouxe à tona um aspecto curioso e polêmico da administração Donald Trump: a presença de um grupo coeso e influente de homens gays em posições-chave, conhecidos como os A-Gays. Eles transitam entre os salões de poder em Washington e as festas privadas mais disputadas, construindo uma rede de influência que vai muito além da política formal.

O centro dessa cena é o clube exclusivo The Ned, a poucos metros da Casa Branca. É lá que secretários como John Phelan, da Marinha, e Scott Bessent, do Tesouro, se misturam a outros altos funcionários do governo e figuras do círculo íntimo de Trump.

O homem gay assumidamente mais poderoso dentro do governo Trump é Bessent. No próprio departamento que ele comanda, há outros nomes influentes. A lista dos chamados A-Gays inclui ainda Tony Fabrizio, o veterano estrategista de pesquisas eleitorais do presidente; Trent Morse, que deixa o cargo de vice-assistente da Casa Branca; Richard Grenell, designado para dirigir o Kennedy Center; e Jacob Helberg, subsecretário de Estado.

E esses são apenas os mais visíveis — há ainda uma série de outros funcionários menos conhecidos que completam essa rede de poder.

Entre eles está Charles Moran, hoje no Departamento de Energia, mas sobretudo lembrado como o homem que transformou os Log Cabin Republicans – tradicional organização de republicanos gays – em braço alinhado ao movimento MAGA.

Moran é descrito como uma espécie de “padrinho” da cena, mantendo até uma planilha com nomes de aliados gays distribuídos em cargos estratégicos, do Pentágono ao Kennedy Center.

Segundo o jornal, esses homens formam uma nova aristocracia política em Washington. Com cortes de cabelo impecáveis, ternos de grife e estilo conservador, eles evitam o discurso mais progressista ligado ao universo queer e não se incomodam com ataques de Trump a pessoas trans ou a drag queens.

Ao contrário: afirmam que nunca houve um presidente republicano tão aberto à presença gay quanto ele. Alguns chegam a dizer que Trump é um ícone camp, comparável a uma drag queen pelo exagero, ironia e pelo narcisismo que exibe em público.

A vida social dos A-Gays é um capítulo à parte. Coberturas em Logan Circle [bairro histórico de Washington, que leva o nome de uma rotatória onde está a estátua do general John A. Logan, herói da Guerra Civil norte-americana], festas em mansões na área do Capitólio, encontros secretos no bairro de Dupont Circle e convites raros para as recepções organizadas pelo bilionário Peter Thiel, megadoador de Trump, compõem o calendário.

Jacob Helberg, indicado por Trump para o cargo de subsecretário de Estado

No Kennedy Center, durante noites de gala como a estreia de “Les Misérables”, eles surgem em grupos de smokings, taças de champanhe em mãos, esperando o casal Trump.

Melania é a grande musa: Moran exibe em sua mesa no governo uma foto com a primeira-dama, lembrando que já a encontrou “uma dúzia de vezes”. Em 2021, foi anfitrião de um jantar em Mar-a-Lago em que ela recebeu o prêmio Spirit of Lincoln, evento descrito como “a experiência mais incrível da vida” por ele.

Mas fora dessa bolha de luxo e influência, a recepção não é tão amistosa. Em bares gays de Washington, muitos relatam ser hostilizados ou simplesmente ignorados quando revelam que trabalham para Trump.

Um frequentador ouvido pelo New York Times foi direto: “Se eu descobrir que um cara trabalha para Trump, ele passa de nota 10 para menos de 0.” Outro resumiu a contradição: “Você pode se divertir em Fire Island ou cortar verbas para programas de AIDS. Mas não dá para fazer as duas coisas.”

Fire Island é uma ilha estreita que fica na costa sul de Long Island, no estado de Nova York. É conhecida por suas praias, casas de veraneio e vida noturna agitada durante o verão.

A hostilidade, no entanto, não parece abalar os A-Gays. Para eles, a luta por direitos já foi vencida, e agora é hora de ocupar espaço dentro do governo.

Um deles ironizou: “Se você não é convidado para a mesa deles, crie a sua própria mesa.” O que se vê hoje em Washington é a consolidação dessa nova tribo de poder, que entre brindes de champanhe e festas privadas prova que, no segundo governo Trump, existe espaço para um grupo improvável: homens gays republicanos que se orgulham de estar no coração do MAGA.