
Quando anunciou em março que iria morar nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já havia consolidado uma rede de contatos construída em quase uma década. O deputado apostou na aproximação com líderes da extrema-direita global e, sobretudo, com aliados próximos de Donald Trump.
Nos últimos meses, o governo Trump pressionou o Brasil em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe. Como retaliação, Washington impôs tarifa de 50% a produtos brasileiros, revogou vistos de autoridades e incluiu Alexandre de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky.
No entanto, o lobby de Eduardo teve efeitos colaterais: ele já foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de obstrução de Justiça e pode ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Documentos revelam que o deputado tem acesso a gabinetes do Executivo e do Congresso americano, incluindo nomes influentes como Ted Cruz e Chris Smith. Essa rede começou a ser costurada em 2016, com a ajuda do empresário Paulo Figueiredo, ex-sócio de Trump no Rio. Eduardo foi apresentado a figuras-chave como Steve Bannon e Marco Rubio, hoje secretário de Estado.
Em 2019, o parlamentar chegou a Mar-a-Lago, residência de Trump na Flórida, onde conheceu Eric Trump. Para o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, essa proximidade consolidou a imagem de Eduardo como articulador da direita internacional.

Ele estava em Washington durante a invasão ao Capitólio, episódio que, segundo Shannon, serviu de aprendizado para a atuação do deputado no 8 de Janeiro em Brasília.
A formação política de Eduardo também passou pelo olavismo. Foi o guru a extrema-direita Olavo de Carvalho quem aproximou o clã Bolsonaro de Filipe Martins, assessor internacional do governo e também denunciado na trama golpista.
A estratégia internacional ganhou corpo quando Eduardo passou a frequentar o CPAC, congresso conservador que reúne a ultradireita mundial. Ele e Jair Bolsonaro são os únicos brasileiros a discursar no evento.
No Brasil, Eduardo presidiu a Comissão de Relações Exteriores da Câmara e, mesmo sem ocupar cargo diplomático, assumiu a função de emissário em encontros com líderes como Viktor Orbán e Matteo Salvini.
Sua agenda também incluiu episódios polêmicos: em 2021 elogiou Mohammed bin Salman, príncipe saudita acusado de ordenar o assassinato de Jamal Kashoggi, e se reuniu em Brasília com a deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hitler. Entre 2018 e 2023, contabilizou mais de 120 reuniões com representantes da ultradireita de diferentes países.
Com a vitória de Trump em 2024, Eduardo reforçou sua posição de ponte entre o bolsonarismo e a Casa Branca. A relação construída ao longo de anos o transformou em peça-chave no tabuleiro político internacional, embora agora esteja sob risco no Brasil com o avanço das investigações que miram sua participação na trama golpista.