PF faz a maior operação da história na Faria Lima contra empresas ligadas ao PCC

Atualizado em 28 de agosto de 2025 às 11:10
Agentes da Polícia federal, em conjunto com as receitas federal e estadual fizeram buscas e apreensões em endereços na Faria Lima. Foto: Werther Santana/Estadão

A Avenida Faria Lima, em São Paulo, epicentro do mercado financeiro brasileiro, amanheceu nesta quinta-feira (28) tomada por policiais federais, militares, promotores do Gaeco e fiscais das Receitas Estadual e Federal. A movimentação integra a Operação Carbono Oculto, considerada a maior já realizada contra a infiltração do crime organizado na economia formal do país.

A ofensiva mobilizou 1.400 agentes em dez estados, cumprindo 200 mandados de busca e apreensão contra 350 alvos ligados ao domínio da cadeia de combustíveis. Só na Faria Lima, 42 empresas, corretoras e fundos de investimentos em cinco endereços estão na mira.

O foco das investigações é o Primeiro Comando da Capital (PCC), que, segundo as autoridades, teria se infiltrado em distribuidoras, postos e até em fundos do mercado financeiro.

De acordo com os investigadores, a principal instituição de pagamentos suspeita, o BK Bank, movimentou R$ 17,7 bilhões em operações consideradas irregulares. A Receita Federal calcula que o esquema sonegou R$ 1,4 bilhão em tributos federais.

Entre os alvos também está uma empresa listada na B3 (Bolsa de Valores brasileira), a Reag Investimentos. É uma das maiores gestoras independentes do país — ou seja, sem ligação com um banco. Seu principal foco é a gestão de recursos e de patrimônio.

O CIRA/SP pediu à Justiça bloqueio de bens para recuperar quase R$ 7,7 bilhões de impostos estaduais sonegados. As fraudes envolveriam adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas e estelionato.

Os alvos principais são os empresários Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Loco, e Mohamad Hussein Mourad, do antigo grupo Aster/Copape. Segundo o Gaeco e a Polícia Federal, eles se associaram ao Grupo Refit (ex-Manguinhos), do empresário Ricardo Magro, ex-advogado do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB). O objetivo seria expandir o controle sobre etanol, gasolina e diesel, com uso de empresas de fachada e ligação com operadores ligados a Marcola, líder do PCC.

Marcola, um dos líderes do PCC, na prisão. Foto: reprodução

As medidas judiciais já determinaram a indisponibilidade de quatro usinas de álcool em São Paulo, cinco administradoras de fundos, cinco redes de postos com mais de 300 endereços e 17 distribuidoras de combustível. A lista inclui ainda transportadoras, terminais portuários e refinadoras.

Outro braço do esquema seria a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR), com o desvio da carga para adulterar gasolina em postos e distribuidoras, o que teria gerado lucros bilionários à organização criminosa.

O setor de combustíveis movimenta cifras expressivas no Brasil: responde por 10% do PIB nacional, gera 1,6 milhão de empregos e arrecada R$ 130 bilhões em tributos por ano.

O domínio desse mercado pelos investigados permitiu ampliar não só os ganhos econômicos, mas também a influência política, com financiamento de lobistas em Brasília. Só na capital paulista, a operação atinge 21 endereços, incluindo fundos imobiliários e de investimento.

Após terem licenças cassadas pela ANP na Operação Cassiopeia, em 2024, Mourad e Beto Loco teriam usado novas distribuidoras para manter o controle do setor. Empresas como a Arka Distribuidora e a TLOG Terminais, criadas no Rio, teriam sido integradas ao Grupo Manguinhos, criando “camadas de ocultação” do patrimônio.

Investigações apontam ainda que distribuidoras vinculadas ao grupo compartilham estrutura e apresentam o mesmo capital social, levantando suspeitas de uso de interpostas pessoas para blindar os verdadeiros donos.

Entre as empresas ligadas ao esquema está a Duvale Distribuidora, que teria emitido procuração para Daniel Dias Lopes, condenado por tráfico internacional de drogas. O elo com criminosos já investigados pela PF em outras operações reforça a tese de que parte do setor de combustíveis servia de canal para lavar dinheiro do PCC.

Segundo os investigadores, a rede construída por Mourad e seus sócios conectava distribuidoras, postos e usinas em São Paulo e Goiás, formando um cartel capaz de influenciar preços e abastecimento. A PF e o Gaeco sustentam que o objetivo final era criar um império econômico, blindado no mercado financeiro e sustentado pelo capital ilícito.

Agentes se concentraram desde cedo em São Paulo para darem início a operação Carbono Oculto
Agentes se concentraram em São Paulo na operação Carbono Oculto. Foto: Divulgação Receita Federal
Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.