
Em meio à pandemia de covid-19, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) articulou a distribuição do medicamento proxalutamida em hospitais do Rio de Janeiro, apesar de o remédio não ter autorização da Anvisa para uso no Brasil. Ele sugeriu a importação de 1 milhão de comprimidos para um estudo em escala nacional.
Segundo o Estadão, a articulação foi descoberta em mensagens obtidas na quebra de sigilo do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. A Anvisa exigia a conclusão da fase 3 nos EUA para que o Brasil aprovasse o uso da substância, algo que não ocorreu.
Em 15 de março de 2021, Eduardo enviou uma mensagem detalhando o plano para o uso do medicamento, mencionando o apoio do então presidente Jair Bolsonaro e citando o Hospital Samel de Manaus como parceiro na iniciativa.
Ele também sugeriu a participação de um militar responsável pelos hospitais federais do Rio, que teria autorizado a experiência, embora o nome desse militar não tenha sido revelado. A medida gerou preocupações, uma vez que a proxalutamida nunca foi aprovada para uso em nenhum país.
Em uma sequência de mensagens, Eduardo enviou um áudio a Mauro Cid relatando que o medicamento seria enviado ao Rio de Janeiro para ser administrado em hospitais federais. A distribuição da proxalutamida, no entanto, não tinha a autorização necessária da Anvisa, tornando-a irregular.
A conversa também indicava a tentativa de demonstrar rapidamente resultados positivos no tratamento, sugerindo que pacientes recebessem alta em poucos dias, o que levantou ainda mais questões sobre a condução ética da distribuição.
O medicamento proxalutamida foi fornecido pelo grupo Samel, que administra hospitais em Manaus. O presidente do grupo, Luis Alberto, afirmou em mensagens enviadas a Mauro Cid que agiu sob ordem do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para enviar os comprimidos de proxalutamida para a Presidência.
Em 2021, a Anvisa suspendeu a importação da substância após irregularidades em pesquisas sobre seu uso, incluindo a falta de aprovação para estudos e a administração em hospitais não autorizados.
O caso gerou uma série de investigações e ações civis públicas, incluindo uma que envolveu hospitais do Rio Grande do Sul. Documentos revelaram que os hospitais Samel de Manaus receberam cerca de 20 mil comprimidos de proxalutamida para estudos, que foram conduzidos sem a devida autorização.
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) também foi envolvida, após ser constatado que um termo de consentimento foi alterado para omitir riscos graves relacionados ao uso da substância.
A decisão de suspender a importação teve como base irregularidades identificadas nas pesquisas sobre o remédio. Um dos maiores problemas apontados foi a omissão de informações críticas sobre os riscos do medicamento, como seus efeitos sobre a formação de espermatozoides e fetos, além de não ter sido autorizada para uso no Brasil.
Veja as conversas:



