Sakamoto: Mesmo com vitória de Tarcísio, Bolsonaro ainda ficaria mais de um ano preso

Atualizado em 1 de setembro de 2025 às 18:29
Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Foto: Andre Penner/AP

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Mesmo com a promessa do governador Tarcísio de Freitas de atropelar o Supremo Tribunal Federal e dar indulto a Jair Bolsonaro como primeiro ato caso, seja eleito presidente da República, o ex-presidente vai pegar pelo menos um ano de prisão.

“Na hora. Primeiro ato. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado”, disse. A declaração de Tarcísio foi dada em entrevista ao jornal Diário do Grande ABC, mostrando que iniciaria seu governo não como uma ação para gerar empregos ou reduzir a fome, mas para tirar um criminoso da cadeia em Primeiro de Janeiro de 2027.

E não é qualquer criminoso. Golpe de Estado é crime gravíssimo, mas muita gente vem se esforçando em mostrar que isso é bobagem e não chega aos pés de adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro.

Aliás, nas últimas semanas, temos visto muita gente boa dando uma passada de pano para o governador ao tentar explicar que ele está fazendo isso como estratégia e nem ele acredita de fato nisso. Entendo a necessidade de preservar a ponte e a fonte, mas Tarcísio é homem crescido e esperto, sabe bem o lugar na História que está reservando a si ao buscar o poder defendendo quem tentou implementar uma ditadura.

A questão é que, mesmo se Tarcísio sair candidato e vencer em outubro 2026, ainda assim Bolsonaro irá passar ao menos um ano preso. Uma sentença deve sair ainda em setembro, recursos serão julgados depois disso e uma ordem de prisão decretada antes do final do ano.

Se ganhar um indulto, pode ficar menos que os 580 dias de Lula, mas muito tempo para alguém que já se mostrou emocionalmente frágil, e quase teve um colapso de tristeza ao perder as eleições de 2022.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começa a julgá-lo e a outros réus do núcleo central da trama golpista nesta terça (2). Ele deve ser condenado, não por haver um complô, mas porque ele mesmo e seus aliados produziram provas suficientes para condená-lo duas vezes. A questão é o dia seguinte diante dessa perspectiva de cana.

Tropas contra o STF por Jair

Quando Donald Trump mostrou seu Magnitsky ao Brasil, e baixou seu tarifaço, involuntariamente dificultou a aprovação de uma anistia no Congresso, pois isso seria vendido agora como capitulação de parlamentares frouxos que se borram nas calças diante de uma potência estrangeira. Ou seja, a conspiração de Eduardo Bolsonaro com os EUA criou um problema para o seu pai.

Mesmo se aprovada, a anistia seria vetada por Lula. Veto derrubado, iria ser questionada no STF e, na atual quadra histórica, declarada inconstitucional. Precisaria de um outro contexto político, com um novo presidente disposto a uma crise institucional, emparedando o tribunal com tropas, ou um Senado disposto a votar impeachment de ministros, para liberar Jair.

A questão no curto prazo para o ex-presidente é que ele vai ser preso. Diante disso, tentará fugir para uma embaixada ou para fora do país (no porta-mala de um carro ou pulando o muro da casa, como teme a PF), vai pedir prisão domiciliar em caráter humanitário devido a sua condição de saúde (que permitia ele ir a motociatas, gritar a plenos pulmões xingando autoridades em carros de som na Paulista e fazer campanha pelo interior do país) ou aceitará a prisão na carceragem da Polícia Federal em Brasília?

Diante da proximidade de seu dia D devido à condenação no âmbito da Lava Jato, muitos sugeriram a Lula asilar-se fora do país, o que ele rechaçou. O STF acabou anulando a condenação por conta da falta de lisura do processo, mas ele pagou cana na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e foi impedido de concorrer em 2018.

Já Bolsonaro nem precisou ser preso: diante da apreensão de seu passaporte em 8 de fevereiro do ano passado, em meio a uma operação da PF sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente se refugiou na Embaixada da Hungria, governada pela extrema direita de Viktor Orbán, entre 12 e 14 de fevereiro.

Além disso, Bolsonaro fugiu do país, em 30 de dezembro de 2022, antes mesmo de terminar o seu mandato. Diz que foi para não passar a faixa presidencial, mas as investigações da PF sobre o plano revelam que ele não queria ser responsabilizado pela conspiração ocorrida no final daquele ano, nem pelo 8 de janeiro que ocorreria a seguir.

E, recentemente, a PF descobriu uma minuta de pedido de asilo a Javier Milei, na Argentina, para Bolsonaro, em celulares apreendidos.

Bolsonaro inflável e confiável

Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, afirmou que, se preso, Jair “elege um poste de dentro da cadeia”. Exagera sobre isso, mas tem razão ao afirmar que Jair seria desenhado como um mártir por seus aliados e seguidores, que iriam explorar isso eleitoralmente com sucesso.

Valdemar Costa Neto. Foto: Cristiano Mariz

Um boneco inflável de Bolsonaro, como o erguido por Tarcísio na Festa do Peão de Barretos, é perfeito: atribui-se a ele todas as qualidades, mas ele não abre a boca para colocar seus interesses em primeiro lugar. Afinal, é um boneco.

A questão, contudo, não é como a figura política de um Bolsonaro preso será usada como mártir da extrema direita, mas como o indivíduo Jair Messias vai encarar a possibilidade de ficar preso. Nem que seja um ano.

Ele é do tipo que acredita que o seu sacrifício pessoal seria usado para uma causa maior ou é daqueles que abandonam aliados aos leões diante da percepção do risco e, por isso, não aceitariam abraçar o sacrifício? Ele pensa mais em si mesmo ou no coletivo? Perguntas retóricas, claro.

Preso em uma cadeia, ele será um ativo para a extrema direita, útil para Tarcísio, Caiado, Zema, Ratinho Jr ou qualquer um que tente o Planalto empunhando a bandeira do bolsonarismo e seus 20% de piso de voto. Contudo, se fugir, pode ser tachado de covarde. E se for pego ao tentar fugir, ele será covarde e incompetente. Se chorar na cadeia e dizer que não aguenta mais, será comparado a Lula que aproveitou o momento para ter uma nova companheira, malhar e planejar sua volta. O que vai ser?