
A proposta de anistiar condenados pelos atos golpistas promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília enfrenta barreiras no Congresso, mesmo após forte pressão da oposição, conforme informações do G1.
O tema, que se tornou a principal bandeira de parlamentares bolsonaristas, domina a pauta da Câmara e do Senado neste semestre, mas encontra resistência do governo e de setores do Legislativo.
Pressão sobre Hugo Motta
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sofre pressão direta da oposição para pautar a anistia. No entanto, analistas afirmam que ele prefere aguardar o desfecho do julgamento da Trama Golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para 12 de setembro, antes de tomar qualquer decisão.
“Motta tenta se equilibrar entre os interesses do governo e os apelos da oposição. Ele evita pautar o projeto da anistia nesse momento para não melindrar o trabalho dos ministros do STF, até porque o julgamento ainda está em curso”, avalia o cientista político Murilo Medeiros.
A proposta em debate foi apresentada pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante, e prevê um perdão “amplo, geral e irrestrito” para crimes cometidos contra a democracia. Segundo Carlos Pereira, da FGV, Motta adota cautela por ter um perfil conciliador: “O presidente Motta não é de extrema direita, é da escola de Arthur Lira, que tem um perfil mais de conciliação”.
Além disso, a própria carreira de Motta pesa na decisão. “Em território paraibano, ele tende a buscar a reeleição com o suporte da base de Lula no estado. A nível nacional, ele precisa manter pontes de conexão com a oposição, com partidos de centro e com seu partido, o Republicanos, de base conservadora”, explica Medeiros.
Alcolumbre defende anistia limitada
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), já indicou que não apoiará uma anistia ampla. Seu texto alternativo, considerado mais rigoroso, prevê apenas a redução de penas para os condenados pelos atos de 8 de janeiro, sem estender o benefício a Jair Bolsonaro.

“Ele trabalha uma anistia mais conectada ao STF, com um diálogo muito melhor com o Supremo e uma anistia com um texto alternativo que, começando pelo Senado, não se estenderia ao ex-presidente Bolsonaro. Seria uma anistia light”, explica Rodrigo Prando.
Segundo o especialista, Alcolumbre tem mais condições de resistir à pressão bolsonarista do que Hugo Motta. “Obviamente, uma parcela dos bolsonaristas radicais não quer. Mas o Davi Alcolumbre tem mais autoridade, mais estofo para aguentar essa pressão.”
Cálculo eleitoral e disputa na direita
A articulação pela anistia também expõe cálculos eleitorais. Bolsonaro está inelegível até 2030, condenado pelo TSE por atacar o sistema eleitoral. Ainda assim, o movimento tenta manter vivo o apelo do bolsonarismo.
“Tarcísio de Freitas passou a encampar com mais fervor a pauta da anistia. Ele está dizendo: ‘Eu estou lutando pela anistia, mas ela não foi possível. Portanto, agora eu mostrei que eu lutei, que eu sou confiável, eu mereço o seu voto’”, explica Prando.
A postura do governador de São Paulo contrasta com as críticas de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que cobrou maior engajamento do aliado. A divisão expõe disputas internas na direita sobre quem herda o capital político do bolsonarismo em 2026.
Rejeição popular à proposta
Pesquisas recentes também apontam que a maioria da população é contrária à anistia. Levantamento Genial/Quaest mostra que 56% dos brasileiros rejeitam a ideia de perdoar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
“O Hugo Motta entende o desgaste que existe com a sociedade, com a opinião pública, só que ele também precisa dos votos do bolsonarismo da extrema-direita para se reeleger presidente da Câmara”, afirma Prando.
Com a resistência do governo, do STF e de parte expressiva da sociedade, a proposta de anistia segue travada no Congresso, apesar da pressão intensa da oposição.