A sombra que pressiona Motta para pautar a anistia no Congresso

Atualizado em 8 de setembro de 2025 às 14:14
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: reprodução

Com apenas sete meses de mandato à frente da presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) enfrenta mais um período de altos e baixos em sua trajetória política. O deputado, o mais jovem a assumir o cargo de presidente da Casa, lida com o peso da sombra do ex-presidente da Câmara e padrinho político, Arthur Lira (PP-AL).

Embora Motta tenha sido eleito para o cargo com apoio de diversas correntes políticas, a presença de Lira, que continua a articular nos bastidores e influenciar as pautas, gera dúvidas sobre a real autoridade de Motta, sobretudo em temas como a anistia aos golpistas e a PEC da blindagem.

Nos últimos meses, Lira, apesar de sua postura discreta em entrevistas e nas plenárias, tem se mostrado uma figura de peso nas negociações dentro da Câmara. Em agosto, em ao menos três situações, o ex-presidente da Casa esteve diretamente envolvido em articulações que afetaram a agenda do atual presidente.

Foi no gabinete de Lira, por exemplo, que se desenrolou a negociação para o fim do motim bolsonarista que ocupava as mesas do plenário da Câmara, em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lira também ajudou a costurar o compromisso de duas votações importantes que ainda estão na pauta das maiores bancadas da Casa: a da anistia e a da PEC da blindagem.

O episódio do motim bolsonarista, ocorrido no retorno do recesso parlamentar, evidenciou as dificuldades de Motta em consolidar sua autoridade. Após o protesto, que envolveu ocupações das mesas dos plenários da Câmara e do Senado, Motta só conseguiu retornar ao cargo de presidente após um acordo costurado nos bastidores com os bolsonaristas.

Hugo Motta e Arthur Lira. Foto: Gabriela Biló/Folhapress

No entanto, ele enfrentou o constrangimento de quase desistir da presidência quando alguns deputados de oposição se recusaram a desocupar as mesas. Embora tenha tentado articular a suspensão dos mandatos desses parlamentares, Motta não obteve apoio suficiente na Mesa da Casa, composta por ele e mais seis deputados.

A pressão sobre o presidente da Câmara não se limitou ao motim. Dias depois, a PEC da blindagem, uma proposta que visa dar ao Congresso o poder de barrar investigações e processos contra parlamentares, foi colocada em pauta. A proposta é defendida por Lira e pelo centrão, mas sua inclusão gerou resistência em alguns partidos. A tentativa de votação acelerada foi adiada após um impasse, e a proposta continua a gerar discussões.

Nos últimos dias, outra grande pressão sobre Motta foi a da anistia a Jair Bolsonaro e outros acusados de envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), liderou a ofensiva pela votação do perdão, e Motta, que até então resistia, admitiu publicamente a possibilidade de colocar o tema em votação.

A pressão se intensificou após o encontro de Lira com Bolsonaro, em Brasília, o que escalou ainda mais a mobilização pela votação da proposta.

Em relação à sua postura, Motta tem alternado entre o alinhamento e os embates com o governo Lula. Nos primeiros meses de mandato, foi considerado mais próximo ao Palácio do Planalto, com presença em viagens oficiais e participação em eventos no Planalto.

No entanto, a relação entre o presidente da Câmara e o governo federal passou por momentos de crise, especialmente após Motta liderar a votação que suspendeu mudanças nas alíquotas do IOF, uma proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A movimentação, que foi classificada como “histórica” pelo presidente da Câmara, gerou críticas nas redes petistas, com sátiras como a de “Hugo Nem se Importa”, acusando-o de desinteresse nas questões do governo.

Apesar das tensões, Motta tem se esforçado para consolidar sua imagem de líder e resolver questões importantes para o Congresso. Seu perfil de habilidoso negociador, que já lhe rendeu quatro mandatos consecutivos de deputado federal, tem sido fundamental para manter seu espaço na Câmara.

Nos bastidores, aliados de Motta destacam que ele tem liderado discussões estruturantes, como a reforma administrativa, e afirmam que sua relação com Lira é de parceria.

Eleito aos 35 anos, Motta tem se mostrado eficiente em cumprir missões e navegar entre as diferentes correntes políticas da Câmara. Sua trajetória inclui uma aproximação com figuras poderosas, como Eduardo Cunha, que presidiu a Casa em 2015 e 2016, e também com Rodrigo Maia (2016-2021) e Arthur Lira (2021-2025). Seu nome foi retirado por Lira após meses de disputa interna, e sua eleição à presidência da Câmara foi um reflexo do seu trânsito bem-sucedido entre os diversos grupos.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.