
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Ao entregar argumentos, ainda que confusos e sem coerência, para alimentar a narrativa de Jair Bolsonaro de que está sendo perseguido pela Justiça brasileira, o ministro Luiz Fux garante a manutenção do seu visto para os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, joga os colegas na fogueira de Donald Trump.
Fux, André Mendonça e Kassio Nunes Marques, os dois últimos indicados por Jair Bolsonaro, não foram afetados pelas medidas punitivas do norte-americano, que incluíram restrições de visto e sanções financeiras, especialmente direcionadas a Alexandre de Moraes. O ministro tem sido celebrado pelo bolsonarismo como alguém que escuta suas preces.
Fiel escudeiro do deputado federal Eduardo Bolsonaro na busca por punição ao Brasil pelo julgamento de Jair, o influenciador Paulo Figueiredo afirmou hoje em suas redes que Fux não divergiu dos demais ministros por medo de sanções nos EUA, mas não foi sancionado porque havia a percepção de que seu posicionamento seria divergente. “Não há como negar que Fux honra a toga”, postou.
A diferença do voto do ministro Fux para os demais está inclusive no nível intelectual. A diferença entre um discurso político e uma tese jurídica. Não há como negar que Fux honra a toga.
— Paulo Figueiredo (8) (@pfigueiredo08) September 10, 2025
Poderíamos gastar linhas discutindo quem veio antes, a galinha ou o ovo, mas o resultado é que do voto do ministro vai permitir que ele continue voando para fazer compras em Miami quando desejar.
Fux, em seu voto, fez coro com argumentos persecutórios do bolsonarismo. Afirmou que o tribunal é incompetente para julgar os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 (apesar de o próprio Fux ter decidido o oposto disso nos julgamentos da arraia miúda golpista) e criticou uma pretensa limitação do direito de defesa dos réus ao afirmar que foi disponibilizada uma quantidade muito grande de material sem tempo hábil para as defesas processá-lo.
Com isso, ajudou a jogar os colegas, que já sofrem sanções por defenderem a democracia, ainda mais na fogueira. “Fux diz que os colegas violam a Declaração Universal dos Direitos do Homem – ora, é exatamente por isso que Alexandre foi sancionado sob o Global Magnistky Act. E os demais também serão”, afirmou Paulo Figueiredo no X.
Fux diz que os colegas violam a Declaração Universal dos Direitos do Homem – ora, é exatamente por isso que Alexandre foi sancionado sob o Global Magnistky Act. E os demais também serão.
— Paulo Figueiredo (8) (@pfigueiredo08) September 10, 2025
Certamente, o ministro calculou que ficar ao lado de Moraes, que está apanhando que nem Judas em Sábado de Aleluia, vai levá-lo a ser alvo também. E tudo o que ele não deseja é ser colocado nos holofotes, até para não ser prejudicado em sua vida pessoal ou seus negócios.
Mas concordo com o influenciador bolsonarista, que afirma que Fux não está fazendo isso pelo visto.
Como já disse aqui, se um nome alinhado ao ex-presidente, como o governador Tarcísio de Freitas, ganha a eleição, Fux, Mendonça e Nunes Marques terão mais poder do que têm hoje. O que significará influência para indicar nomes para o Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais federais, entre outros postos nos Poderes Judiciário e Executivo. Como ele sabe, Lula desconfia dele. Não é só Disney ou ideologia, mas também pragmatismo.