A “isca” que Fux jogou para Zanin em defesa de Bolsonaro, segundo advogados

Atualizado em 11 de setembro de 2025 às 6:16
Luiz Fux e Cristiano Zanin, ministros do STF. Foto: reprodução

As movimentações do ministro Luiz Fux durante o julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) abriram novas expectativas para as defesas dos réus e, segundo relatos de bastidores, funcionaram como uma “isca” para influenciar o voto do ministro Cristiano Zanin.

A repetição de referências ao julgamento do mensalão, em 2012, foi interpretada como um recado direto ao ex-advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que agora integra a Corte. “Zanin já sentiu na pele a condenação de clientes em casos políticos rumorosos”, comentou um dos defensores ao Uol.

Os advogados dos principais acusados, entre eles Jair Bolsonaro (PL), disseram em tom reservado que não esperavam que Fux fosse tão longe ao acolher parte das teses apresentadas. Inicialmente, acreditavam que precisariam de dois votos pela absolvição para levar o caso ao plenário via embargos infringentes.

Agora, com a mudança no cenário, não descartam novas reviravoltas. O voto de Zanin tornou-se peça central, já que a ministra Cármen Lúcia, também por votar nesta fase, é vista como improvável aliada dos réus.

Fux absolveu os acusados dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado ao patrimônio e organização criminosa armada.

Com isso, restariam duas imputações principais contra Bolsonaro e outros sete réus: tentativa de golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado. O alívio entre os advogados foi imediato. Durante a manhã, relatavam a “angústia” do ex-presidente; no final do dia, já avaliavam que Bolsonaro estava mais animado diante do desenrolar da sessão.

A guinada de Fux surpreendeu até mesmo setores bolsonaristas, que desde o início o viam como uma possível esperança dentro da Corte. Essa percepção se consolidou após os Estados Unidos suspenderem vistos de ministros do STF em 2023, decisão que poupou apenas ele, Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Ainda assim, acreditava-se que Fux não chegaria a absolver os réus para não se isolar na Primeira Turma. A sessão desta quarta-feira (10), porém, alterou o cálculo político e jurídico.

Logo no início, Fux votou três vezes pela anulação do processo, alegando que o Supremo não teria competência para julgar a ação e que o caso deveria ser analisado pelo plenário. Ele também acolheu queixas sobre cerceamento de defesa.

“Os fatos ocorreram entre 2020 e 2023. Naquele período a jurisprudência era pacífica, consolidada, inteligível que uma vez cessado o cargo a prerrogativa de foro deixaria de existir. Nesse caso, os réus perderam seus cargos muito antes”, afirmou.

Mensagens privadas entre advogados de réus, divulgadas por Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, mostraram o impacto do voto. “Arrebentou”, escreveu um deles. Outro comentou: “Amo o Fux”. Um terceiro afirmou: “Não achava, mas começo a achar” que o ministro poderia absolver Bolsonaro e os demais acusados.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.