O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ativista de extrema-direita Charlie Kirk. Foto: Reprodução
Menos de seis meses antes de ser baleado e morto em uma palestra nos Estados Unidos, o ativista de extrema-direita Charlie Kirk fez um apelo direto a Donald Trump para punir o Brasil em razão das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Com informações da colunista Mariana Sanches, do UOL.
Em seu programa, Kirk defendeu a aplicação de “tarifas e, se necessário, sanções” contra o país por causa do que chamou de “comportamento imprudente e imoral” da Corte. A fala ocorreu em 27 de março, logo após o tribunal aceitar a denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Kirk criticou as medidas contra a disseminação de desinformação em plataformas digitais e disse: “Juízes e procuradores-gerais impuseram controles abrangentes de liberdade de expressão no X e em outras plataformas de liberdade de expressão. Agora, Bolsonaro será julgado por supostamente planejar um golpe. O presidente Lula disse ontem que é dever de Bolsonaro, abre aspas, provar sua inocência. Não é inocente até que se prove o contrário. É culpado até que se prove o contrário”.
Na sequência, afirmou: “Isso acontece em um país, o Brasil, que supostamente chamamos de aliado. Se a Rússia fizesse isso, nós a sancionaríamos. Se o Brasil faz isso, por que estamos tolerando? E a resposta é que não deveríamos. O Departamento de Estado dos EUA, Marco Rubio e o presidente Trump deveriam impor tarifas e, se necessário, sanções ao Brasil por esse tipo de comportamento imprudente e imoral”.
Trump adota as medidas sugeridas
Meses depois, em julho, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil, em vigor desde 6 de agosto. Na carta enviada ao governo brasileiro, justificou as sanções com base no julgamento de Bolsonaro, que classificou como “caça às bruxas”, e nas decisões do STF de moderar conteúdos digitais.
Além das tarifas, foram impostas punições pessoais a ministros da Corte, incluindo sanções da Lei Global Magnitsky contra Alexandre de Moraes, relator do processo.
No mesmo programa, Kirk também defendeu a tese de que Bolsonaro teria vencido a eleição de 2022 em todo o país, “exceto nos cantos mais pobres, mais criminosos e mais corruptos do país, o Nordeste, onde o candidato de esquerda Lula da Silva venceu”. Ele ainda comparou os ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
O interesse de Kirk no Brasil
O interesse de Kirk no Brasil não era pontual. Em março de 2023, quando Bolsonaro estava na Flórida, o ativista o entrevistou no hotel de Trump, em Miami. Na ocasião, o ex-presidente negou ter planejado um golpe de Estado e disse ser vítima de uma “orquestração” de autoridades brasileiras.
Já em setembro de 2024, o convidado de seu podcast foi o golpista Paulo Figueiredo, que discutiu a disputa entre Elon Musk e o STF sobre a regulação das redes sociais.
Kirk abraçou a narrativa de que decisões da Corte violavam liberdades individuais, alinhando-se a figuras como Figueiredo e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que mais tarde articulariam campanha por punições ao Brasil em troca de anistia a Bolsonaro.
O assassinato de Charlie Kirk
Enquanto o julgamento de Bolsonaro ocorria em Brasília, Kirk foi atacado durante uma palestra na Utah Valley University. Um atirador disparou contra o trumpista, que foi atingido no pescoço. Apesar do socorro imediato, ele morreu minutos depois, aos 31 anos.
Kirk liderava o movimento MAGA entre jovens e era próximo da Casa Branca, que decretou luto oficial até 14 de setembro. Seu discurso de março antecipava os argumentos que Trump usaria em julho para oficializar o tarifaço contra o Brasil.