Cochichos e bilhete: os bastidores do longo voto de Fux no STF

Atualizado em 11 de setembro de 2025 às 12:01
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Victor Piemonte/STF

O quarto dia de julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) foi dominado pelo voto de Luiz Fux, que se estendeu por mais de 13 horas e surpreendeu os colegas. O ministro abriu seu calhamaço logo às 9h, indicando que sua fala seria longa, mas a duração superou as expectativas e obrigou o cancelamento da sessão do plenário marcada para a tarde. Com informações do Globo.

A previsão inicial era encerrar os trabalhos ao meio-dia, com chance de prorrogação por mais uma hora. No entanto, o voto de Fux estava longe de terminar. A sessão precisou ser suspensa três vezes: uma pausa de 10 minutos pela manhã, o intervalo de almoço entre 13h e 14h e um novo hiato à tarde.

Durante uma dessas pausas, no espaço conhecido como “sala de lanches”, os ministros receberam a visita do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e do vice, Edson Fachin. O gesto foi interpretado como apoio diante da importância do julgamento e para reduzir o clima tenso. Segundo relatos, Fux ficou poucos minutos e logo voltou ao gabinete.

Cochichos e bilhete trocado

Enquanto Fux lia suas divergências em relação a Alexandre de Moraes, os ministros buscavam manter a concentração com sucessivos cafés, água e até refrigerante — Cristiano Zanin tomou um copo de Coca-Cola com bastante gelo por volta das 18h50.

Já Cármen Lúcia e Moraes trocaram cochichos discretos e até um bilhete. Os dois permaneceram sozinhos em plenário durante um dos intervalos e conversaram em voz baixa, em contraste com a monotonia do longo voto.

Tietagem

Em um dos intervalos, o advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, aproveitou para tietar o deputado petista Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara. Eles trocaram abraços e conversaram de forma animada.

Mais tarde, por volta das 20h30, Flávio Dino desceu do plenário para cumprimentar o advogado de Mauro Cid, Cézar Bitencourt, a quem chamou de “mestre”. O ministro também brincou com o advogado Jair Alves, dizendo que gostaria de chegar “ao mesmo tamanho” dele, numa referência à forma física magra do defensor.

Um dos votos mais longos da história

Diferente dos dias anteriores, quando a plateia reagiu com risos e até ministros se permitiram comentários, a quarta sessão foi marcada exclusivamente pela voz de Fux.

O discurso já é apontado como um dos mais longos da história do STF, superando em muito o recorde de Celso de Mello, que em 2019 falou por seis horas e meia — divididas em dois dias.

Fux defendeu a absolvição de Jair Bolsonaro (PL) e de outros réus, contradizendo centenas de decisões anteriores. O magistrado sequer reconheceu a existência da tentativa golpista, mas acabou se contradizendo ao condenar o tenente-coronel Mauro Cid por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

A decisão surpreendeu até os bolsonaristas. A expectativa era de que Fux apenas divergisse do relator Alexandre de Moraes na dosimetria das penas, unificando crimes pelo princípio da consunção. No entanto, ele foi além: votou pela nulidade do processo e questionou a competência do STF para julgar o caso, posição contrária à que havia defendido anteriormente.