
A ministra Cármen Lúcia, de 70 anos, foi protagonista nesta quinta-feira (11) em um julgamento que definiu o futuro político e jurídico de Jair Bolsonaro e de outros cinco acusados pela tentativa de golpe de Estado.
A magistrada seguiu o relator e votou para condenar os 8 acusados do Núcleo 1 da trama golpista, entre eles, o ex-presidente.
Nascida em Montes Claros, Minas Gerais, a ministra construiu uma carreira marcada por pioneirismo e ascensão constante. Formou-se em Direito na PUC-Minas, onde também fez mestrado em Direito Constitucional, e chegou ao Supremo em 2006, indicada pelo então presidente Lula. Antes disso, atuou como procuradora do Estado e chefiou a Procuradoria-Geral de Minas Gerais, destacando-se pela independência e disciplina.
A ministra acumulou cargos inéditos para mulheres no Judiciário brasileiro. Foi a primeira a presidir o Tribunal Superior Eleitoral em 2012, conduzindo as eleições municipais daquele ano, e a segunda a assumir o comando do STF, entre 2016 e 2018, período em que enfrentou os desdobramentos mais intensos da Operação Lava Jato.

Em 2024, voltou ao TSE, tornando-se também a primeira mulher a ocupar a presidência da Corte Eleitoral por duas vezes. Durante o tempo em que liderou o Supremo, chegou a assumir interinamente a Presidência da República em cinco ocasiões, sempre em razão de viagens do presidente e dos sucessores imediatos na linha de comando.
Fora das funções de poder, prefere uma vida discreta. Recusa privilégios, dirige o próprio carro, dispensa motoristas oficiais e chegou a devolver recursos de viagens que não utilizou. Na posse como presidente do STF, pediu que fossem servidos apenas café e água, gesto que reforçou sua imagem de ministra “antiprivilégios”.
Conhecida pela disciplina, começa o dia por volta das 5h da manhã para analisar processos antes das atividades oficiais. Ao deixar a presidência do Supremo, registrava o menor acervo de ações pendentes entre os ministros. Paralelamente, cultivou trajetória acadêmica de peso: foi professora por mais de duas décadas na PUC-Minas, publicou sete livros, organizou coletâneas, escreveu dezenas de artigos e domina quatro línguas estrangeiras.
A música é outro aspecto marcante de sua vida pessoal. Admiradora da MPB, convidou Caetano Veloso para cantar o Hino Nacional em sua posse no STF. Católica praticante, mantém símbolos religiosos em casa, mas nunca deixou que sua fé limitasse decisões de caráter progressista.
A ministra também foi favorável à união homoafetiva, à constitucionalidade da Lei Maria da Penha e à interrupção da gravidez em casos de anencefalia, reafirmando a imagem de magistrada sensível às pautas sociais.