
O julgamento da chamada trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou contornos ainda mais tensos após o voto do ministro Luiz Fux, que absolveu Jair Bolsonaro e outros cinco réus. A manifestação, apresentada na quarta-feira (10), abriu fissuras internas na Primeira Turma e foi rebatida de forma direta pelos colegas na sessão seguinte, quando se consolidou a maioria pela condenação do ex-presidente. Com informações de Daniela Lima, do Uol.
Na quinta-feira (11), ciente da repercussão de sua posição, Fux chegou ao plenário em silêncio, sem interagir com outros ministros. O ambiente já mostrava que as respostas ao seu voto viriam durante a sessão. A ministra Cármen Lúcia, responsável por formar a maioria, proferiu seu voto em pouco mais de duas horas, sem pausas.
Na sequência, o ministro Cristiano Zanin, presidente da Turma, anunciou que faria apenas um resumo, em contraste com as mais de 12 horas de exposição de Fux.
Um ministro ouvido reservadamente resumiu o clima: “Quem tem razão não precisa de 12 horas para se explicar”. A crítica refletia a percepção de que o voto do colega não apenas destoou, mas também alongou um julgamento que exigia clareza e objetividade.

Flávio Dino, em aparte durante a sessão, reforçou o contraste. Segundo ele, um dos fundamentos da Justiça é tratar com igualdade pessoas de diferentes condições sociais.
“Os critérios aplicados ao jardineiro devem ser os mesmos aplicados ao dono da casa. Isso é Justiça”, afirmou, em clara resposta ao posicionamento de Fux, que questionou a competência do STF para julgar Bolsonaro e seus aliados, apesar de já ter condenado mais de 400 pessoas pelos mesmos crimes.
A divergência de Fux, embora isolada, não altera o resultado final, já que não há expectativa de que Zanin apresente questionamentos ao mérito das acusações. Com isso, a Primeira Turma do STF deve confirmar a condenação de Bolsonaro e inviabilizar recursos sobre a validade das imputações.
O gesto de solidariedade entre ministros também marcou a sessão. Gilmar Mendes, que não integra a Primeira Turma, fez questão de acompanhar os trabalhos presencialmente, da plateia, em apoio a Alexandre de Moraes, que havia sido diretamente confrontado por Fux. A presença de Gilmar foi interpretada como um recado político dentro e fora da Corte.