NY Times: EUA devem aprender com o Brasil, diz autor de “Como as democracias morrem”

Atualizado em 12 de setembro de 2025 às 12:24
Donald Trump e Jair Bolsonaro no resort do americano na Flórida, em Mar-a-Lago, em 2020. Foto: Tom Brenner/Reuters

Em artigo publicado no New York Times, Steven Levitsky, professor de Ciência Política em Harvard e autor de “Como as democracias morrem”, afirmou que os Estados Unidos deveriam aprender com o Brasil após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi sentenciado a 27 anos e 3 meses de prisão por liderar a trama golpista.

Para ele e Filipe Campante, professor de Economia na Johns Hopkins e coautor do artigo, a condenação representa um marco que os Estados Unidos não conseguiram alcançar com Donald Trump, atual presidente do país. Segundo o texto, o STF “fez o que o Senado e os tribunais federais dos Estados Unidos tragicamente não fizeram: levar à Justiça um ex-presidente que atacou a democracia”.

Trump, mesmo após a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e diversas acusações de conspiração para anular eleições, não foi punido judicialmente. “Os tão exaltados freios e contrapesos constitucionais do país não conseguiram responsabilizar Trump”, prosseguiu.

Absolvido no Senado após o impeachment e beneficiado por uma decisão da Suprema Corte que lhe concedeu imunidade total, o republicano retornou ao poder em 2024. Os autores ainda citam as sanções impostas ao Brasil pelo governo Trump para tentar salvar Bolsonaro.

“O governo Trump procurou usar tarifas e sanções para intimidar os brasileiros a enfraquecer seu sistema judicial — e, com ele, sua democracia. Na prática, a administração americana está punindo o Brasil por fazer aquilo que os próprios EUA deveriam ter feito, mas não fizeram: responsabilizar um ex-presidente por tentar derrubar uma eleição”, avaliam.

O texto ainda diz que Bolsonaro se inspirou no “manual de Trump” em 2022. “Atrás nas pesquisas à medida que se aproximavam as eleições de 2022, Bolsonaro passou a questionar a integridade do processo eleitoral. Atacou repetidamente as autoridades eleitorais e tentou deslegitimar — e até eliminar — o sistema de votação eletrônica brasileiro. Disse que a única forma de perder seria por fraude, insinuando que uma vitória da oposição seria ilegítima”, prossegue.

Bolsonaro e Moraes se cumprimentam em cerimônia no TST (Tribunal Superior do Trabalho), em 2022. Foto: Gabriela Biló/Folhapress

Eles lembram do ataque golpista de 8 de janeiro de 2023 e afirmam que “presidentes eleitos atacaram instituições democráticas para se manter no poder após perder a reeleição”. Os autores apontam que “ambos fracassaram”, mas que os Estados Unidos e o Brasil tiveram diferentes respostas posteriormente.

Os americanos fizeram pouco para proteger sua democracia do líder que a havia atacado. Os tão exaltados freios e contrapesos constitucionais do país não conseguiram responsabilizar Trump (…) Essas falhas institucionais tiveram um custo enorme. O segundo governo Trump tem sido abertamente autoritário, usando o Estado como instrumento para punir, ameaçar e intimidar”, acrescentam.

Autoridades brasileiras, por sua vez, foram elogiadas pelos autores: “Agiram com rapidez e eficácia para responsabilizar um ex-presidente. É justamente essa eficácia que colocou o país na mira de Trump. Sem saída no Brasil, Bolsonaro buscou apoio em Washington. Seu filho Eduardo pressionou a Casa Branca durante meses”.

Para os autores, há uma lição clara: democracias não se defendem sozinhas. “Mesmo os mecanismos constitucionais mais bem desenhados não passam de papel se não houver líderes dispostos a aplicá-los”, alertam.

“Com todas as suas falhas, a democracia brasileira hoje é mais saudável que a americana. Conscientes do passado autoritário do país, juízes e políticos brasileiros não tomaram a democracia como garantida. Já suas contrapartes nos EUA falharam. Em vez de minar os esforços do Brasil, os americanos deveriam aprender com eles”, concluíram.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.