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Fux se converteu em unidade de medida de excesso. Por Washington Araújo

Publicado por
Diario do Centro do Mundo
-
Atualizado em 14 de setembro de 2025 às 8:46
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O ministro do STF Luis Fux. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O voto Fux será lembrado não pela justiça, mas pela desmedida: treze horas de dispersão, vaidade e vexame, o maior monólogo já imposto ao Supremo.

Era 9h da manhã do dia 10 de setembro de 2025 quando Luiz Fux começou a falar. Terminou depois das 21h. Treze horas de voto ininterrupto. O Supremo Tribunal Federal, os réus da trama golpista de 2022 e milhões de brasileiros que acompanhavam pela TV Justiça, transmitida simultaneamente por outros canais, foram tomados por uma sensação de estranheza: o excesso, o monopólio da palavra e a recusa em ouvir apartes dos colegas.

Houve quem lembrasse de discursos épicos de Fidel Castro, que chegavam a sete horas de duração — ainda assim, metade do que Fux entregou. O paralelo é inevitável: para sustentar treze horas de fala, seria necessário um talento de orador incomum, como o fervor religioso arrebatador de Billy Graham ou a cadência magnética de Barack Obama, cujas frases pareciam esculpidas em mármore. Fux, porém, não tem nem o carisma pastoral de Graham nem a fluidez política de Obama. O contraste foi brutal.

Para medir tal desmesura, basta comparar.

Em menos de 13 horas, pode-se assistir do início ao fim a uma temporada inteira de cinco séries consagradas do streaming: Breaking Bad, La Casa de Papel, The Crown, Stranger Things e O Gambito da Rainha.

Em 13 horas, é possível ver, de ponta a ponta, a trilogia de O Poderoso Chefão, que moldou a história do cinema mundial.

O contraste se amplia quando lembramos de julgamentos de júri de grande repercussão, como os casos de O.J. Simpson ou Suzane von Richthofen: em fases cruciais, com testemunhos e alegações, sessões inteiras se encerravam em menos de 13 horas.

A duração do voto de Fux ultrapassou não apenas o senso do razoável, mas também a lógica processual. Esse foi o pensamento de ilustres juristas em todo o país.

Na música, em treze horas é possível ouvir todas as nove sinfonias de Beethoven ou percorrer as quatro óperas da tetralogia O Anel do Nibelungo de Wagner — marcos da civilização ocidental. Em literatura, em menos tempo pode-se atravessar Os Miseráveis, decifrar Grande Sertão: Veredas, refletir sobre as distopias de 1984 e perder-se nos labirintos de Cem Anos de Solidão.

Na Bíblia católica, treze horas são suficientes para ler não apenas Gênesis e Êxodo, mas também os quatro Evangelhos e ainda o Livro dos Salmos — o coração poético das Escrituras. Uma jornada espiritual inteira cabe no mesmo espaço que Fux ocupou para, ao fim, entregar um voto sem equilíbrio, sem estrutura lógica, sem nexo e sem senso de justiça, uma vez que a falta de sintonia entre o Fux antigo e o Fux atual foi gritante ao longo das tortuosas horas.

Até a Copa do Mundo serve de medida: as finais dos últimos dez mundiais, somadas, com prorrogações e pênaltis, não atingem treze horas. A paixão e o drama do futebol, compactados, não se comparam à resistência de quem acompanhou o monólogo de Fux.

E há mais formas de dimensionar o exagero. Em treze horas, um avião percorre todo o trajeto de São Paulo a Tóquio, cruzando oceanos e fusos horários. Em treze horas, um maratonista como Kipchoge correria seis maratonas oficiais e ainda sobraria tempo para o banho. Em treze horas, um cirurgião cardíaco poderia realizar ao menos cinco transplantes de coração, devolvendo vida onde só havia silêncio. Em treze horas, um navio cruza o Canal do Panamá de ponta a ponta, ligando o Atlântico ao Pacífico.

O líder cubano Fidel Castro em discurso na Universidade de Havana (Cuba). Foto: Reprodução/Jorge Luis González

Em treze horas, a Estação Espacial Internacional completa quase nove voltas inteiras em torno da Terra, provando que até o cosmos é mais ágil que o Supremo. Em treze horas, a equipe do Cirque du Soleil monta, apresenta e desmonta um espetáculo inteiro, deixando atrás de si aplausos e encantamento. Em treze horas, uma criança pode nascer, ser embalada e dormir, enquanto o ministro Fux ainda insiste em conduzir o fio de sua fala.

“O voto Fux” entrará para os anais não apenas da jurisprudência, mas também da excentricidade. Foi mais do que uma decisão: foi uma prova de fôlego, de vaidade e de uma estranha vocação para reinventar a própria ideia de tempo.

Faltou ao ministro o senso de ridículo. Seu voto foi tão incompreensível que duas horas bastariam para dizê-lo com clareza. Se o relator Alexandre de Moraes levou cerca de cinco horas para apresentar um relatório denso de mais de 800 páginas — peça reconhecida já como uma das mais consistentes da história do STF —, Fux, por seu turno, retirou-lhe a espinha dorsal, desconectou causas de consequências, tratou-o como salame a ser fatiado ao longo de treze horas, perdendo sua unidade temporal e sua lógica interna.

Poucas vezes o Supremo passou por vexame tão histórico e tão longo. Restará ao ministro Fux a vergonha de ter sido autor dessa proeza, um monumento à verborragia que já nasceu condenado ao esquecimento.

E, como se não bastasse, o episódio pariu até uma nova tradição linguística: o neologismo “um Fux”. Prometer falar apenas 10% de um Fux; medir viagens intercontinentais em pontos Fux; intitular cursos de oratória como “aprenda a falar bem evitando o estilo Fux”; ou mesmo, no altar, o padrinho tranquilizar os convidados: “para não os cansar, prometo falar menos que o Fux”. Um exagero que se converteu, ironicamente, em unidade de medida do excesso. E agora resta a ele conviver com essa fama.

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