
A Polícia Federal vinculou o deputado federal Elmar Nascimento (União) às investigações da Operação Overclean, que apura fraude em licitações, corrupção e desvio de recursos públicos na Bahia. Segundo a PF, a participação do parlamentar teria ocorrido por meio do envio de emendas para Campo Formoso, cidade administrada por seu irmão, Elmo Nascimento (União).
A prefeitura firmou contratos de R$ 51 milhões com a empresa Allpha Pavimentações, apontada como beneficiária de um esquema de superfaturamento. De acordo com o relatório policial, licitações foram fraudadas com a ajuda de Francisco Nascimento, primo do deputado e então secretário-executivo do município.
Um dos elementos-chave citados no inquérito é uma planilha apreendida com Alex Parente, empresário investigado, que registra repasses de R$ 493 mil a Amaury Albuquerque Nascimento, assessor e primo de Elmar. A PF também indicou que o parlamentar teria adquirido um apartamento em nome da filha de Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo” e um dos principais investigados.
Apesar desses indícios, o ministro Nuno Marques, do STF, rejeitou medidas contra Elmar após manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que considerou frágeis as evidências.
A investigação, porém, autorizou o afastamento do então presidente da Codevasf, Marcelo Andrade, indicado por Elmar, em meio às suspeitas. A PF destacou ainda registros de reuniões entre o deputado e empresários ligados à fraude, incluindo um encontro em Brasília, em novembro de 2022.
Em mensagens obtidas, o nome de Elmar aparece ao lado do de Davi Alcolumbre, presidente do Senado. A defesa do parlamentar, contudo, afirma que “não houve qualquer reunião em 2022 com Alex Parente” e que as suspeitas sobre encontros ou acertos são “infundadas”.
Para a Polícia Federal, a liberação de R$ 40 milhões em emendas de Elmar para Campo Formoso via “orçamento secreto” reforça o elo com o esquema. Os recursos financiaram duas licitações de pavimentação, uma de R$ 45 milhões e outra de R$ 12 milhões, ambas em convênio com a Codevasf.
Além disso, a investigação identificou movimentações suspeitas feitas por Amaury, assessor do deputado, incluindo pagamentos a uma empresa da esposa de Elmar. O Coaf apontou incompatibilidade entre os valores transacionados e a renda declarada do assessor, sugerindo uso de recursos ilícitos.

A defesa de Elmar classificou os indícios como frágeis e sustentou que “após meses de investigações e vazamentos seletivos à imprensa, a PGR se manifestou contra qualquer diligência contra ele”.
Sobre os pagamentos à empresa da esposa, os advogados afirmaram que “a empresa ainda estava em fase de constituição e sequer possuía conta bancária”. A compra do apartamento ligado a Marcos Moura também foi considerada “um negócio regular, registrado em cartório e objeto de financiamento bancário”.
Quanto a mensagens sobre a inauguração de obras da Allpha em Campo Formoso, os defensores disseram que se tratava apenas da escolha de uma data adequada para o evento: “Nada mais é que um diálogo regular sobre o dia ideal para que o maior número de autoridades pudesse estar presente”.
A Codevasf, em nota, declarou manter “compromisso com a elucidação dos fatos e com a integridade de suas ações” e garantiu cooperação com as autoridades. Enquanto isso, a Operação Overclean segue apurando novas ramificações do esquema, que já atinge empresários, políticos e gestores públicos no estado.
Diante das suspeitas, o caso segue no STF, com Elmar negando envolvimento e reforçando que “desconhece qualquer relação de Amaury com os fatos objeto de investigação”. Já a PF sustenta que há elementos que apontam para uma “articulação voltada ao favorecimento de empresas beneficiadas por práticas fraudulentas”, o que mantém o deputado sob a mira das apurações.