
As curadoras da 11ª edição da Festa Litero Musical de São José dos Campos anunciaram nesta terça-feira (16) que estão deixando a organização após a prefeitura excluir a jornalista Milly Lacombe da programação. Em comunicado, Alice Penna e Costa, Bianca Mantovani, Tania Rivitti e a assistente Bruna Fernanda afirmaram que a decisão foi tomada com “indignação e revolta”. Com informações da Folha de S.Paulo.
O grupo destacou que trabalhou por um ano na preparação da edição, cujo tema é “Eu sou porque nós somos”. Elas disseram que a retirada de Milly, convidada para a mesa de abertura, inviabilizou a continuidade no projeto. As curadoras classificaram a medida como uma forma de censura e declararam ter se sentido desrespeitadas.
A exclusão de Milly Lacombe ocorreu após pressão de políticos de direita da cidade. O prefeito Anderson Farias (PSD) determinou o cancelamento da participação da jornalista no evento, previsto para este fim de semana. Em nota, ele afirmou que a cultura de São José dos Campos não seria “palco político-ideológico”.
O motivo alegado pela prefeitura foram declarações dadas por Milly em um podcast, onde teria feito críticas à chamada “família tradicional”. Em trechos divulgados nas redes sociais por vereadores, a jornalista disse que a família conservadora seria um “núcleo produtor de neuroses” e “base do fascismo”.
Quero ser claro: a apresentação da ativista Milly Lacombe em São José foi cancelada. Cultura deve unir, não dividir. Nossos espaços não serão usados como palanque contra a família e valores da cidade. Já fiz isso no passado, quando cancelei o cachê da Maria Gadu por ter pedido…
— Anderson Farias (@andersonsjc_) September 16, 2025
Procurada, Milly afirmou que os vídeos circularam de forma descontextualizada e chamou os cortes de “desonestos”. Segundo ela, sua fala tratava da importância da inclusão e do respeito a jovens LGBT+ e mulheres. A jornalista disse que considera grave que manifestações em defesa da diversidade sejam vistas como ofensivas.
Milly declarou ainda que divergências de opinião fazem parte do debate democrático, mas que “silenciamentos não”. Para ela, a liberdade de expressão foi cancelada por setores que dizem defendê-la. A jornalista ressaltou que a família pode ser espaço de afeto, mas também de insegurança, e que uma sociedade madura deveria ter condições de discutir essas questões.