
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (17) uma operação de grande porte para investigar um esquema de corrupção que teria movimentado R$ 1,5 bilhão envolvendo órgãos de fiscalização ambiental e de mineração. A ação atinge servidores públicos da Agência Nacional de Mineração (ANM), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e também estruturas do governo de Minas Gerais.
Ao todo, foram expedidos 22 mandados de prisão preventiva e 79 de busca e apreensão, além do afastamento de servidores de cargos públicos. A Justiça Federal em Minas determinou ainda o bloqueio de R$ 1,5 bilhão e a suspensão imediata das atividades das empresas investigadas.
Segundo a PF, o grupo teria usado licenças ambientais fraudulentas para explorar minério de ferro de forma irregular, inclusive em áreas tombadas e próximas a regiões de preservação ambiental, colocando comunidades em risco. Entre os alvos estão empresários apontados como líderes do esquema e servidores públicos suspeitos de receber propina.
A investigação destaca Alan Cavalcante do Nascimento, sócio da Fleurs Global Mineração, como um dos chefes da organização criminosa, junto de Hélder Adriano de Freitas e João Alberto Paixão Lages. Segundo a PF, eles atuam desde 2020 em sociedade de fato para expandir atividades ilícitas, controlando empresas do Grupo Minerar.
Um dos presos é o diretor da ANM em Brasília, Caio Mário Trivelatto Seabra Filho. De acordo com a PF, ele teria influenciado processos administrativos para favorecer a Aiga Mineração em troca de propina, chegando a interferir em pareceres da Procuradoria Federal Especializada da ANM mesmo diante de decisões judiciais contrárias.

Também foi expedido mandado contra o ex-diretor da agência, Guilherme Santana Lopes. A operação aponta ainda para a participação de Débora França, ex-superintendente do Iphan em Minas Gerais até fevereiro de 2023.
Segundo a PF, ela teria usado uma empresa própria para receber pagamentos relacionados ao esquema. A investigação reforça que a atuação da organização envolvia manipulação de decisões jurídicas e administrativas para liberar projetos de mineração em áreas de alto risco ambiental e social.
De acordo com os investigadores, a estrutura do grupo era altamente organizada, com divisão de tarefas entre empresários e servidores, o que permitia obter licenças ilegais e manter a exploração irregular em larga escala. As licenças concedidas fraudulentamente abriram caminho para impactos ambientais graves, com danos a patrimônio histórico e riscos de novos desastres semelhantes aos já registrados em Minas.
A PF destacou ainda que a operação mira não apenas os executores, mas também os beneficiários diretos das fraudes. A suspeita é de que os empresários envolvidos tenham lucrado bilhões em contratos e exploração de minério de ferro sem respeitar normas de segurança e preservação.