Não haverá reparação com Bolsonaro fora da cadeia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 18 de setembro de 2025 às 23:02
Jair Bolsonaro com cara de choro, sem olhar para a câmera
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – Reprodução

Não é mais uma intriga qualquer enviada pelo bolsonarismo aos amigos das grandes redações. A Folha informou em manchete essa semana que “ao menos dois ministros do tribunal” estão tramando no Supremo, com gente do centrão, um plano para livrar Bolsonaro da cadeia.

Ao menos dois ministros do Supremo estariam manuseando uma das maiores bombas pós-condenação de Bolsonaro. As outras são as bombas da anistia ampla, geral e irrestrita e a da PEC da Bandidagem.

Um tribunal com 11 ministros teria pelo menos dois deles dedicados a “uma série de conversas” com gente empenhada em evitar que Bolsonaro seja presidiário. Em troca da não concessão de anistia ao condenado.

Pelo menos dois é uma imprecisão condenada em qualquer manual de jornalismo. Numa feira, equivale a dizer que cerca de dois tomates podem estar podres no cesto. Mas pelo menos dois ministros viraram manchete da Folha, sem cara e sem nome.

Imaginemos cerca de dois ministros, numa instituição em que eles são 11, negociando o que pelo menos nove deles não negociariam, não nesses termos e nessas circunstâncias.

Por que a Folha produziu essa manchete desrespeitosa principalmente com Alexandre de Moraes? Porque tudo passou a ser considerado possível e até razoável.

A Folha sugere aos seus leitores que chegamos ao ponto em que, depois do estresse do julgamento de Bolsonaro, quando os seus sete cúmplices foram comparados aos manés do 8 de janeiro, seria possível ter Bolsonaro em liberdade e os manés presos.

Print de manchete da Folha de S.Paulo
Manchete da Folha de S.Paulo – Reprodução

Não porque Bolsonaro tenha doenças que possam impedir sua prisão, mas porque as doenças de Bolsonaro são mais doentias do que as doenças dos outros.

Bolsonaro, na imagem que a Folha vende, é o poderoso chefão condenado a 27 anos de cadeia, mas que não pode ser preso porque ainda tem poder político.

Foi condenado como chefe da organização criminosas que planejou e levou adiante o golpe. Mas, pela sequência de fatos recentes, que expõem sua fragilidade física, não poderia ser preso.

Se fosse o chefe de uma boca de fumo, seria preso. Se fosse o chefe do PCC que mandou matar o delegado Ruy Pontes, não iria escapar. Mas o chefe do golpe em que um general planejou a morte de Lula, Alckmin e Moraes, esse não precisa ser preso.

O centrão não quer Bolsonaro na cadeia nem anistiado, e pelo menos dois ministros concordam que ele deve ficar em casa. Quem do centrão participa das conversas? A Folha não diz. Não há como não pensar em Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Antonio Rueda e Gilberto Kassab.

Pelo menos dois ministros do Supremo se reuniriam com esses quatro para deixar Bolsonaro livre e solto? Kassab participaria dessa tramoia? Tarcísio de Freitas, mesmo tendo chamado Moraes de tirano e ditador, seria o padrinho da turma? Ou os emissários seriam subalternos do centrão? Ministros do STF conversariam com mandaletes da direita?

É certo que mais de dois leitores devem ter acreditado na história da Folha. Mas bem mais do que pelo menos dois brasileiros crédulos não acreditam nessa história e não aceitariam ver Bolsonaro solto depois do cansaço enfrentado por Polícia Federal, Ministério Público, Supremo e pelo menos metade do país.

Bolsonaro precisa virar presidiário e ser tratado com todas as cerimônias de quem é buscado em casa para pegar cadeia. E ficar preso por pelo menos dois anos. Não haverá reparação com Bolsonaro em casa.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/