Dirceu diz que Centrão usa anistia para isolar Bolsonaro e viabilizar Tarcísio em 2026

Atualizado em 19 de setembro de 2025 às 11:19
O ex-ministro José Dirceu. Foto: Reprodução

O ex-ministro José Dirceu afirmou, em entrevista ao Globo, que o apoio do Centrão ao projeto de anistia em debate na Câmara está condicionado à aprovação de uma proposta que preserve a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, consiga atrair a base bolsonarista para apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato ao Planalto em 2026:

O senhor avalia que o governo errou na estratégia nesta semana ao não conseguir barrar a urgência da anistia e irritar o Centrão com votos contra a PEC da Blindagem na Câmara?

Não acredito. A direita, sem o bolsonarismo, tem maioria na Câmara e no Senado. Portanto, ela pode aprovar medidas que considere seu interesse. Com a anistia, querem resolver o problema de 2026, porque eles estão sem uma definição. Ao se colocar antes (como candidato), o Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) abriu um confronto com a família Bolsonaro e com a base bolsonarista.

O Tarcísio não é líder, não tem voto. A base bolsonarista que dá voto para ele. Eles querem dar anistia para o Bolsonaro continuar inelegível e Tarcísio ser o candidato deles. Para ter o voto bolsonarista. E a questão da autoproteção é por causa das emendas impositivas, dos inquéritos da Polícia Federal e as ações do Supremo Tribunal Federal, através do ministro Flavio Dino. Isso leva a conclusão que precisamos de uma reforma política no Brasil.

Lula indicou apoio a um texto alternativo, que reduza penas. Como será possível explicar o apoio do governo a um projeto que pode beneficiar condenados do 8 de janeiro e até Bolsonaro?

É uma operação inusitada e quase surrealista. Se houver uma maioria que não queira dar anistia ampla, geral e irrestrita, é porque não querem o Bolsonaro. Porque no fundo é isso, é o cinismo. É grande a hipocrisia em tudo isso. Eles não querem o Bolsonaro, porque a pesquisa está mostrando, a sociedade não quer mais Bolsonaro.

A aprovação da urgência do projeto de anistia dificulta a relação do governo com o Congresso?

O que pode piorar a relação do governo com Congresso? Rejeitar o projeto de Imposto de Renda? Vale-gás? Rejeitar a conta de luz mais baratas? Nunca tive ilusões em relação a maioria do governo na Câmara e no Senado. Nós estamos no governo, é eles quem tem que nos derrotar. E nós temos grande parte do MDB, uma parte importante do PSD. Então, está feita a nossa aliança. 2026 será uma eleição como a de 2022. Ninguém pode dizer que vai ganhar, mas a tendência pelas pesquisas é o Lula ser reeleito. A intervenção do Trump no Brasil vai cada vez mais ter peso na eleição, porque eles vão intervir na eleição. Eles estão fazendo isso na Europa. (…)

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução