
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não deve embarcar para Nova York neste fim de semana para participar da Assembleia-Geral da ONU. Segundo Jamil Chade, do Uol, as condições impostas pelos Estados Unidos foram classificadas pelo Palácio do Planalto como “inaceitáveis” e vistas como um “ato de humilhação”, embora tenha conseguido um novo visto após a suspensão inicial determinada pelo governo de Donald Trump.
O impasse começou quando Trump acusou Padilha de ter ajudado, no passado, médicos cubanos a atuar no Brasil por meio do programa Mais Médicos. Essa justificativa levou à suspensão do visto do ministro, além do de sua esposa e filha. Após um mês de negociações, Washington liberou a entrada do brasileiro apenas nesta quinta-feira (18), mas com limitações de circulação.
Pelo documento, Padilha só poderia transitar em um raio restrito: entre o hotel, a sede da ONU, a missão diplomática do Brasil e a residência do embaixador.
Fontes do Itamaraty afirmaram ao Uol que a constatação interna é de que o ministro não viajará, ainda que tenha acionado a ONU contra a decisão do governo Trump. Padilha pretendia também visitar a sede da Organização Pan-Americana de Saúde, em Washington, mas as restrições inviabilizam a agenda. Oficialmente, o Ministério da Saúde ainda não anunciou a decisão final.
Diplomatas brasileiros destacam que as limitações impostas a Padilha são semelhantes às aplicadas a países considerados “inimigos” dos Estados Unidos, como Cuba, Venezuela e Irã.

Desde 2019, durante o primeiro mandato de Donald Trump, as delegações cubanas passaram a ter circulação reduzida apenas à ilha de Manhattan, o que impede seus representantes de participar de eventos fora do perímetro da ONU.
Um documento submetido por Havana às Nações Unidas e obtido pelo Uol afirma que “a restrição adicional de movimento imposta a diplomatas cubanos, a partir de setembro de 2019, a uma área limitada da Ilha de Manhattan, permanece em vigor e constitui um obstáculo ao bom desempenho de suas funções”.
O informe denuncia ainda que a medida “atingiu extremos ridículos”, como a impossibilidade de diplomatas participarem de eventos paralelos organizados por missões ou pelo próprio secretariado da ONU.
A queixa também inclui prejuízos para as famílias dos diplomatas. Segundo o texto, filhos de representantes cubanos estão “na prática, impedidos de participar de atividades extracurriculares com seus colegas fora de Manhattan”.
As restrições exigem que escolas comuniquem com uma semana de antecedência todos os detalhes de excursões, incluindo itinerário, acompanhantes, matrícula dos ônibus e horários de saída e chegada.
“Estas são apenas algumas das inúmeras situações que as autoridades cubanas e suas famílias enfrentam diariamente, totalmente incompatíveis com a proteção que deve ser concedida pelo direito internacional”, completa o documento.