Desesperado, Milei gasta US$ 1 bilhão em 2 dias para tentar conter queda do peso na Argentina

Atualizado em 20 de setembro de 2025 às 11:45
O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Agustin Marcarian

A Argentina gastou cerca de US$ 1 bilhão em apenas dois dias para tentar segurar a desvalorização do peso, em meio à fuga acelerada de investidores e ao risco de colapso do plano econômico do presidente Javier Milei, conforme informações da Bloomberg.

A intervenção ocorreu após a moeda ultrapassar o limite da faixa de câmbio estabelecida no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que acendeu o alerta sobre uma nova espiral inflacionária.

Os cortes de gastos e as reformas de Milei, inicialmente bem recebidos pelo mercado, perderam força diante das derrotas políticas do governo. A moeda argentina tem caído em quase todas as sessões das últimas semanas, chegando a recuar 7% após a eleição que marcou a vitória da oposição peronista em Buenos Aires.

Para segurar a cotação, as autoridades intensificaram a intervenção: US$ 53 milhões vendidos na quarta-feira, US$ 379 milhões na quinta e US$ 678 milhões na sexta.

“Confiamos no programa e não vamos nos afastar dele. Vamos vender até o último dólar no teto da faixa”, disse o ministro da Economia, Luis Caputo.

Na Argentina, Milei e Caputo reforçam compromisso fiscal
O presidente argentino Javier Milei e seu ministro da Economia, Luis Caputo. Foto: Reprodução

O temor do mercado é que o custo para sustentar a moeda até as eleições seja alto demais. “O governo precisaria de US$ 9,75 bilhões para defender a faixa até as eleições”, estimou Santiago Resico, economista da corretora one618.

Crise política e queda de popularidade

A piora do cenário político tem pressionado ainda mais a economia. O escândalo de corrupção envolvendo aliados, cortes em saúde e educação e a vitória da oposição peronista de esquerda na principal província do país, Buenos Aires, enfraqueceram Milei no Congresso.

“Provavelmente é cedo para dizer que a história está desmoronando, mas certamente as novas informações foram todas negativas”, avaliou Christine Reed, gestora da Ninety One, em Nova York.

O índice S&P Merval, da bolsa argentina, teve o pior desempenho entre mais de 90 no mundo neste mês. Já os títulos em dólar lideram as perdas entre mercados emergentes, com rendimentos saltando de 10,27% no início de setembro para acima de 17%, levando a dívida do país novamente para território de risco.

Regras cambiais mais duras

Além de queimar reservas, o governo intensificou controles cambiais. O banco central proibiu acionistas e gestores de bancos de negociarem dólares no mercado financeiro por até 90 dias após comprarem moeda no câmbio oficial. A medida representa uma guinada para Milei, que se elegeu prometendo dolarizar a economia e fechar o banco central.

O endurecimento mostra a dificuldade do governo em conter a volatilidade e manter a credibilidade junto a investidores, que agora duvidam da capacidade de Milei de avançar com sua agenda de reformas e estabilizar a segunda maior economia da América do Sul.