A expectativa para o 1° encontro de Lula e Trump na Assembleia da ONU

Atualizado em 21 de setembro de 2025 às 7:24
Lula em discurso na ONU. Foto: reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca neste domingo (21) em Nova York para a 79ª Assembleia-Geral da ONU, em um momento de tensão diplomática. Ele fará o discurso de abertura na terça-feira (23), como é tradição desde 1947, mas o pano de fundo será o atrito com os Estados Unidos, que avaliam novas sanções contra o Brasil.

Será também a primeira vez que Lula e Donald Trump estarão no mesmo evento desde a eleição do estadunidense e a adoção de medidas punitivas contra o país. Apesar disso, não há expectativa de encontro entre os dois.

O ambiente é marcado pela possibilidade de Washington anunciar tarifas adicionais, restrições de vistos e até sanções pessoais com base na Lei Magnitsky, que foi criada para punir violações de direitos humanos. O governo brasileiro teme que esse pacote seja divulgado em resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a Folha de S.Paulo, um integrante da comitiva afirmou que, se isso acontecer, Lula deve responder diretamente em seu discurso. O timing preocupa o Planalto, já que os EUA discursam logo após o Brasil, o que pode amplificar o contraste entre os líderes.

Além da relação bilateral, a agenda da assembleia será dominada por temas internacionais urgentes, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito em Gaza e a crise climática. O Brasil defenderá a criação de dois Estados para resolver a questão palestina, proposta apoiada por cerca de 150 países, mas rejeitada pelos EUA no Conselho de Segurança.

Trump durante discurso na ONU ainda em seu primeiro mandato. Foto: reprodução

Lula já classificou as ações de Israel em Gaza como genocídio e pode voltar a usar esse termo. Ele também deve reforçar a importância da COP30, que será sediada em Belém em novembro, como símbolo do protagonismo ambiental brasileiro.

A presença militar estadunidense no Caribe, próxima à Venezuela, é outro ponto que deve entrar nas discussões sobre a América Latina.

Internamente, Lula deve destacar a soberania do Brasil e a defesa da democracia, em resposta a críticas de Trump sobre o país. Aliados avaliam que a intensidade dessas declarações vai depender de como os EUA conduzirão eventuais novas punições.

Nos últimos meses, Trump cortou recursos de agências da ONU e enfraqueceu o Conselho de Segurança ao conduzir negociações paralelas em conflitos internacionais, o que aumentou a percepção de esvaziamento do órgão.

A própria ONU chega a seus 80 anos em meio a um dos períodos mais frágeis da história. Diplomatas em Nova York chegaram a apelidar, em tom irônico, as reuniões de alto nível de “hell level meetings”, em referência ao clima de tensão.

A expectativa é que Trump tente reforçar sua narrativa de que conseguiu pacificar seis conflitos sem mediação do Conselho de Segurança. Já o Irã deve usar sua fala para responder aos ataques estadunidenses contra instalações nucleares ocorridos neste ano.

Na agenda bilateral, mais de 30 países solicitaram encontros com Lula, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Suécia e Finlândia também pediram reuniões, que ainda precisam de confirmação. A comitiva brasileira será mais enxuta em relação ao ano passado. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) não viajou, alegando prioridade para questões internas.

Alexandre Padilha (Saúde) também ficou de fora, após os EUA restringirem vistos de seus familiares e de pessoas ligadas ao Mais Médicos. Confirmaram presença os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente) e Ricardo Lewandowski (Justiça).

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.