Governo Trump é “terrível para os EUA”, diz vencedor de Nobel de Economia

Atualizado em 21 de setembro de 2025 às 12:56
Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: Alex Brandon/AP

James Robinson, professor da Universidade de Chicago, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2023 e coautor do livro “Por que as Nações Fracassam”, avaliou que as medidas adotadas pelo governo de Donald Trump terão efeitos desastrosos para a economia dos Estados Unidos. Em passagem por São Paulo para participar de um evento da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Fin), Robinson afirmou que a política comercial da nova administração é um risco para o dinamismo do país.

“Eu acho que vai ser terrível. Absolutamente terrível. Eu acho a política tarifária terrível. É claro que não é apenas sobre economia, mas vai ser terrível”, declarou em entrevista ao Estadão. Para ele, o dinamismo estadunidense nos últimos dois séculos veio da capacidade de atrair talentos de todas as partes do mundo.

“As instituições sugaram talentos de todos os lugares do mundo — do Brasil, da Inglaterra, da África do Sul. De onde é o Musk? África do Sul. De onde era a família de Steve Jobs? Síria. Se isso se inverter, haverá efeitos profundamente negativos na prosperidade econômica dos Estados Unidos”, afirmou.

Robinson destacou que o governo Trump precisa ser entendido não apenas pelas atitudes do presidente, mas pelas condições que o levaram ao poder. “As pessoas atribuem demais essa situação à pessoa do presidente Trump. E se você fizer isso, corre o risco de não ver as circunstâncias das quais ele é um sintoma”, disse.

Ele apontou que, nas últimas décadas, o estadunidense médio não se beneficiou do crescimento econômico, da globalização e do avanço tecnológico. “Se você olhar para os salários reais, a menos que tenha um diploma universitário, você está em pior situação agora do que há 50 anos”.

Esse cenário, afirmou, alimentou uma reação contra todo o sistema. “É contra a globalização, contra os estrangeiros vindo para os Estados Unidos, contra a ordem econômica liberal, o livre-comércio. É contra o liberalismo social também.” Robinson citou ainda a insatisfação com políticas ligadas ao campo educacional e cultural.

“Por que o ataque contra Harvard e Columbia? Elas são as instituições educacionais liberais, estão criando a elite liberal. Para mim, o presidente Trump entendeu todo esse descontentamento. Os políticos tradicionais não entenderam isso”.

Na visão do economista, Trump soube canalizar esse ressentimento por ser uma figura midiática. “Talvez, porque ele foi uma estrela de reality show. Ele realmente interagiu com muitas pessoas comuns de uma forma que Hillary Clinton nunca fez ou Joe Biden nunca fez. Então, de alguma forma, ele entendeu esse enorme descontentamento na sociedade e descobriu uma maneira de canalizar tudo isso”.

O economista britânico James A. Robinson. Foto: reprodução

Robinson relacionou ainda o avanço das políticas de Trump com a polarização em torno de temas sociais. “Você sabe por que esse ataque à cultura woke? Porque isso também faz parte dessa ideologia liberal. Nós dizemos que todos deveriam ser a favor do casamento gay, e se você não é, você é uma pessoa má. E as pessoas não gostam de ser chamadas de más, não gostam de ser chamadas de uma pessoa imoral. Isso também faz parte da reação”.

O pesquisador alertou que os efeitos das medidas vão além da política comercial. “Pense no ataque às universidades, à ciência. Isso vai ter efeitos econômicos terrivelmente negativos”, afirmou. Para ele, o país precisará encontrar formas de manter uma economia aberta, mas sem ignorar a diversidade de opiniões.

“Precisa haver muito mais tolerância com as opiniões de outras pessoas. Eu acho que muitos americanos não concordam com essa agenda woke e esse liberalismo social agressivo. Eu pessoalmente posso concordar com isso, mas entendo que há muitas pessoas religiosas que não concordam. A América é um lugar muito diverso e eu acho que essa agenda tem sido um desastre”.

Sobre o Brasil, Robinson indicou que as próximas oportunidades econômicas podem surgir na África, e não necessariamente nos Estados Unidos. “E pense nas oportunidades para o Brasil. Esqueça os Estados Unidos. De repente, a África começa a crescer e vocês têm todas essas conexões”, disse.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.