
Algumas conclusões elementares sobre as manifestações de domingo. A primeira indica que o tamanho dos protestos contra a anistia aos golpistas e a PEC da Bandidagem ficou muito acima das previsões mais otimistas.
O segundo é que exatamente por isso as manifestações causaram desconforto na velha direita, na nova extrema direita e também em parte dos jornalões.
Ficou evidente a tentativa de Estadão, Folha e Globo de oferecer contrapontos da direita aos eventos do domingo, por vozes de dentro dos próprios jornais, como se houvesse um grande esforço para dizer que os atos foram um sucesso, mas nem tanto.
Diogo Schelp escreveu no Estadão, em chamada de capa de fora a fora na página, logo abaixo da manchete:
”Multidões contra blindagem e anistia expõem constrangimento do PT com pauta ética. O partido seria o mais apto a explorar esse ânimo popular renovado, mas fica meio ridículo na fantasia de defensor da ética na política”.
A Avenida Paulista lotada, de ponta a ponta, dizendo SEM ANISTIA, NÃO À PEC DA BLINDAGEM e reivindicando a isenção do imposto de renda pra quem agnha até 5 mil reais e o fim da escala 6 x 1! pic.twitter.com/iniHTgotDa
— Pensar a História (@historia_pensar) September 21, 2025
As multidões expõem constrangimento? Schelp reduziu as manifestações antifascistas e antigolpistas de domingo ao que chama de pauta ética. Não foram caminhadas para conter a extrema direita, mas para que o PT se coloque como partido ético.
É mais ou menos a linha de Vera Magalhães, que titulou assim sua coluna no Globo: “Após 20 anos, esquerda retoma bandeira do combate à corrupção”.
Corrupção, a palavra mágica para a direta moralista dominada por corruptos, desde muito antes do que chamavam de mensalão e do lavajatismo, retorna à pauta e resume o que motivou os brasileiros a saírem às ruas. É o que eles dizem.
Não foi para conter o fascismo, a organização criminosa do golpismo e a bandidagem em suas muitas frentes de atuação, mas para atacar a corrupção, essa senhora sempre disponível a pregações da direita. É o quele insistem em dizer.
Eu acompanhei a caminhada em Porto Alegre. Vi cartazes com as palavras bandidagem, anistia, golpismo, fascismo, ditadura, soberania, Palestina. Não vi um cartaz, um só, e não ouvi nenhum grito de guerra com a palavra corrupção.
MILHARES NAS RUAS DE PORTO ALEGRE CONTRA A ANISTIA E A PEC DA BANDIDAGEM!
Vídeo @leodacostas pic.twitter.com/Ir58G5t0GX
— Matheus Gomes (@matheuspggomes) September 21, 2025
Não é de corrupção que se trata, meus colegas jornalistas que falam pela direita incomodada com as manifestações. É de algo bem mais amplo.
É da guerra ao fascismo em feral, da tentativa de conter a impunidade de golpistas e a bandidagem do Congresso que irá se misturar à bandidagem do crime organizado.
Sim, a manipulação das emendas envolve corrupção, com gangues organizadas em Brasília, nos Estados e nos municípios. Mas nem a pauta das emendas apareceu nas caminhadas, porque está dentro do combo geral da bandidagem que pretende se tornar impune para sempre.
A Folha conseguiu publicar, no meio do texto sobre as manifestações de domingo, fotos da aglomeração de 7 de setembro, organizada por Malafaia na Avenida Paulista. Para informar à extrema direita que oferece contrapontos, mesmo que de forma desastrosa.
As esquerdas não esperavam manifestações com esse impacto, e os jornalões não gostariam de ter noticiado o que aconteceu no domingo como algo que vai incomodar direita e extrema direita. Foram mais de 40 mil pessoas no Rio e em São Paulo.
Os jornalões, ao convocarem seus contrapontos pró-direita, não tiveram nenhuma preocupação em esconder que ficaram chateados.