
As manifestações realizadas no domingo (21) nas 27 capitais brasileiras são vistas por integrantes do governo Lula como um divisor de águas contra a anistia aos golpistas do 8 de janeiro e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ministros e parlamentares aliados avaliam que os atos funcionaram como a “pá de cal” para enterrar a proposta.
Antes mesmo das mobilizações, a anistia já enfrentava dificuldades no Congresso por causa dos atritos entre o Centrão e o PL. O relator do projeto, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), vinha tentando elaborar um texto que reduzisse penas, mas os bolsonaristas rechaçaram qualquer negociação nesse sentido.
A pressão das ruas complicou ainda mais esse cenário. Segundo a análise de governistas, líderes do Centrão devem rever seu apoio à proposta diante da repercussão negativa. Até deputados ligados a Bolsonaro passaram a reclamar do desgaste, principalmente porque a urgência da anistia foi aprovada logo após a votação da PEC da Blindagem, considerada impopular.
A leitura é que houve uma “contaminação” entre as pautas. O tamanho dos protestos também reforçou, para a base de Lula, um sinal de esgotamento em relação ao que chamam de semipresidencialismo imposto pelo Congresso.

Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, a reação popular pode inaugurar uma mudança “estrutural”. ” Essa aliança do centrão com o bolsonarismo, expressa na ‘PEC da Bandidagem’ e na anistia, fez explodir um sentimento de indignação contra o sistema. A pauta do país vai mudar”, afirmou à coluna de Bela Megale no jornal O Globo.
Nos bastidores, aliados de Bolsonaro admitiram surpresa com a força das manifestações. Mesmo com tentativas públicas de minimizar os protestos, parlamentares e assessores do PL reconheceram que o comparecimento nas ruas foi maior do que esperavam.
O ato na Avenida Paulista foi o que mais chamou atenção dos bolsonaristas. Para parte da oposição, a aprovação da PEC da Blindagem teve efeito contrário ao planejado. Em vez de proteger seus parlamentares, acabou transferindo para a esquerda e para o governo Lula o discurso anticorrupção, antes monopolizado por bolsonaristas. A avaliação é que isso enfraquece ainda mais a defesa da anistia.