Tarifaço de Trump sobre o café brasileiro foi a maior burrice de todos os tempos

Atualizado em 22 de setembro de 2025 às 13:30

O tarifaço de Donald Trump é uma estupidez econômica inominável. Isso já está claro para qualquer economista com mínimo de honestidade intelectual. Mas, olhando para circunstâncias específicas, a coisa beira o doentio. O caso do café brasileiro mostra como decisões erráticas de política comercial penalizam os próprios consumidores americanos em um momento de preços recordes.

O café não é uma commodity qualquer. Diferente da soja ou do arroz, trata-se de uma planta sensível e de difícil cultivo. Pequenas variações de clima, excesso de sol, falta de chuva, pragas ou problemas de fertilização podem arruinar uma safra. Essa vulnerabilidade torna o mercado historicamente volátil, alternando superproduções e colheitas ruins. Ao mesmo tempo, a demanda global é firme e inelástica: quando uma sociedade incorpora o hábito do café, raramente o abandona. Hoje, o consumo cresce nos EUA e na Europa, e é puxado com força por Ásia, Oriente Médio e países africanos.

Como o café enfrenta muitas variáveis, é sempre saudável fazer a média mensal em 12 meses para neutralizar influências e enxergar a tendência com mais clareza. Em agosto, a média mensal em 12 meses das exportações brasileiras de café verde atingiu US$ 1,156 bilhão, um recorde histórico, apesar de a quantidade ter ficado em 202,25 mil toneladas — não é recorde em volume. Ou seja: mesmo exportando um pouco menos, o Brasil está batendo recordes de receita porque os preços estão mais altos.

Em agosto de 2025, o preço médio do café exportado pelo Brasil foi de US$ 6.179 por tonelada. Para os Estados Unidos, o preço médio foi de US$ 6.118 por tonelada. Num momento em que o café já estava caro por razões de mercado, o governo americano resolveu encarecer ainda mais o produto no varejo interno com um tarifaço de 50% — uma medida que agrava o problema em vez de aliviar o bolso do consumidor.

Nos últimos 12 meses, as exportações brasileiras de café verde geraram quase US$ 14 bilhões em receitas — um salto forte em relação aos US$ 9,4 bilhões dos 12 meses anteriores. Para comparar, em 2021 a receita anual era de US$ 5,5 bilhões. O setor hoje é robusto e capitalizado, com “gordura para queimar”. Na prática, Trump escolheu o adversário errado para brigar: o tarifaço encontrou um produtor capitalizado, preços internacionais elevados e demanda crescente em outros mercados, o que limitou o impacto sobre o Brasil.

Já do lado americano, o resultado foi pagar mais por um item do dia a dia. O tarifaço elevou os preços no varejo justamente quando o café já estava caro em toda parte. Para os produtores brasileiros, fica a lição de intensificar a diversificação de destinos, reduzindo a dependência dos EUA; para os consumidores americanos, a constatação de que aventuras protecionistas, em especial aquelas motivadas por motivos políticos irrefletidos, encarecem o que é essencial.

Publicado originalmente em O Cafézinho