
O discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU nesta terça (23) desarmou a estratégia bolsonarista de monopolizar a interlocução brasileira com a Casa Branca. O republicano afirmou que teve uma “química excelente” com o presidente Lula e acabou com a ideia de que apenas Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Paulo Figueiredo teria conexão com a Casa Branca.
Essa avaliação foi compartilhada por integrantes do Itamaraty e pela ala pragmática do bolsonarismo, que reconhecem que, com a fala de Trump, Lula não só se beneficia, mas também o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio, que havia tentado estabelecer uma interlocução com a Casa Branca desde o início do tarifaço imposto pelos EUA, foi desautorizado por Figueiredo e Eduardo, o que fragilizou sua posição. Nos bastidores do Itamaraty, o contato entre Lula e Trump durante a Assembleia foi visto como um “golaço” para o presidente brasileiro.
“Era meio óbvio que ia dar uma química lá. Não podia ser telefonema, tinha que ser ao vivo”, disse um membro do governo ao Blog da Andréia Sadi no g1. A fala de Trump também causou desconforto entre os bolsonaristas, que agora se veem sem uma resposta clara.

O apoio às sanções dos EUA contra o Brasil, adotado por alguns dentro do grupo bolsonarista, agora fica sem respaldo, uma vez que elas eram usadas como um suposto alinhamento completo de Trump às narrativas da extrema-direita.
A fala também reacendeu comparações com a relação a Bolsonaro. Durante uma Assembleia da ONU anterior, o ex-presidente disse ao americano: “Trump, I love you”. A declaração, acompanhada de um afago, ficou registrada como um marco do alinhamento ideológico entre os dois.
Publicamente, figuras da extrema-direita, como Eduardo e Figueiredo, têm dito que o gesto do presidente americano foi positivo. Eles acreditam que o republicano fez os elogios para fragilizar Lula nas negociações.