
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Não, as declarações de Donald Trump sobre o rápido encontro que teve hoje com Lula nos bastidores da Assembleia Geral da ONU não significam uma mudança de opinião do presidente norte-americano. Ele ainda é um agressor. Porém, o pessoal que estende bandeira dos Estados Unidos para celebrar a data da independência do Brasil sentiu. Ah, sentiu.
Eduardo Bolsonaro e seus assessores correram às redes sociais para ressignificar as declarações de Trump, que afirmou ter abraçado Lula, rolado uma química entre eles e que vão se encontrar. O deputado federal vendeu a ideia de que, dessa forma, ele vai forçar o petista a negociar a anistia a Bolsonaro.
Qualquer marmota com problemas de cognição sabe que a condenação de Bolsonaro é uma questão do Supremo Tribunal Federal e que uma anistia, mesmo se aprovada pelo Congresso, será declarada inconstitucional pelo STF. Lula vetando o projeto ou não (e ele vetará) não fará diferença no final das contas.
Ou seja, esse argumento de que foi um lance genial de Trump é conversa para boi dormir, voltada aos seguidores da extrema direita que acreditam na falácia de que o clã Bolsonaro e amigos são os únicos com quem o presidente dos Estados Unidos falaria no Brasil. Precisam dar uma resposta ao rebanho e, talvez na falta de tempo para uma ideia melhor, surgiu essa história da “estratégia genial”.
Trump é realmente um gênio. Ele denuncia a ditadura brasileira e a invasão da jurisdição americana bem na ONU. Em seguida, diz que gosta do Lula, que o chamou para conversar e complementa dizendo que o Brasil vai continuar indo mal exceto se estiver ao lado dos EUA. Deixou o…
— Paulo Figueiredo (8) (@pfigueiredo08) September 23, 2025
Trump ter dito que abraçou Lula, que ele parece um bom homem e que só negocia com quem gosta, não significa que vai dar em alguma coisa. O presidente dos Estados Unidos já se mostrou uma pessoa volátil, que conta muitas mentiras (durante o discurso, ele mentiu sobre a balança comercial com o Brasil, por exemplo), tendo transformado o Salão Oval em armadilha para ferrar com os presidentes da Ucrânia e da África do Sul, por exemplo. Pode fazer o mesmo com Lula, e o governo brasileiro sabe disso.
Quem acha que tudo será diferente e que os dois vão colher jabuticabas juntos e dançar Village People está doidão. O que existe é uma promessa de conversa, e que ela partiu do norte-americano.
Mas, se a vida está difícil para trabalhadores e empresários atingidos pelas sanções de Donald Trump, incitadas por Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo e companhia limitada, imagina só a vida do pessoal que conspira contra o Brasil. O que admira é que ele ainda faça tudo isso com mandato parlamentar.