Não me lembro de ter visto, em minha carreira, uma nota de desculpa tão infeliz quanto a escrita por Gilberto Dimenstein para justificar a conduta do seu site Catraca Livre no caso Chapecoense.
Alguns anos atrás, o barão da mídia Rupert Murdoch se desculpou do que um tabloide seu fizera na tragédia de uma garotinha sequestrada e morta da seguinte maneira: “Perdão e adeus”.
Era a manchete do jornal, fechado imediatamente sob o clamor da opinião pública britância, inconformada com o jornalismo abutre do veículo de Murdoch.
Não digo que seja a mesma coisa. Não digo que os dois casos tenham gravidade idêntica. Não digo que Dimenstein devesse ser tão radical quanto Murdoch.
O que chama a atenção é a diferença de atitude diante de erros notáveis.
Murdoch, com admirável economia de palavras, mostrou compunção. Dimenstein, com uma nota copiosa, demonstrou presunção. Veja abaixo:
Qual o sentido de dizer que ele ganhou “todos os prêmios” possíveis como escritor e jornalista? É algo completamente fora do contexto: o que está em debate é a exploração comercial do Catraca da tragédia da Chapecoense, e não o currículo de Dimenstein.
Ainda que ele fosse detentor de um Pulitzer, de um Nobel, não viria ao caso.
O tom imperial também impressiona. Ele fez questão de dizer que toma todas as decisões do site. Lembrou Luís 14 ao dizer, celebremente: “O Estado sou eu”.
Se o objetivo foi isentar os editores de qualquer responsabilidade, não funcionou. O que ficou estampado é um chefe centralizador que reivindica todas as glórias — e até os tombos — de seu site.
Não sou psicólogo, mas o que fica para mim é que Dimenstein ficou extremamente perturbado com a repercussão do episódio, e resolveu escrever sem pensar.
Teria sido mais simples, mais eficaz, mais nobre, mais honesto ele dizer como Murdoch: “Desculpem. Errei.”