
Originalmente publicado em O Cafezinho
“O grande fator que pode ajudar o Lula no Rio chama-se Eduardo Paes.” A avaliação é de Tati Roque, secretária de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro, em entrevista concedida após as recentes manifestações contra a PEC da anistia e o avanço da pauta bolsonarista no Congresso.
Para ela, a presença do prefeito ao lado do presidente pode ser decisiva nas eleições de 2026, em especial em regiões onde Lula ainda enfrenta resistência.
Segundo Tati, Paes tem “boa aceitação em lugares onde o Lula não tem” e pode servir como ponte para ampliar o alcance do presidente. Ela citou o exemplo da região dos Lagos: “É tipo 60% do Bolsonaro e 15% do Lula. Então, é uma diferença absurda pro Bolsonaro. Então, o Eduardo Paes entrando nesses lugares, que é o que ele tá tentando fazer, ele consegue reverter um pouco isso, eu acho, trazer mais votos pro Lula. Então, eu acho que no Rio, quem pode fazer esse bloqueio ao bolsonarismo e com isso ajudar o Lula é o Eduardo Paes.”
Tati também comentou a mobilização popular que tomou conta das ruas no último 21 de setembro. Segundo ela, o ato no Rio surpreendeu pela dimensão: “Foi uma surpresa positiva muito boa, porque eu acho que representou mesmo um ponto de virada. A gente está vendo agora as reações do Congresso Nacional, o Hugo Motta já voltando atrás, os senadores… até a dosimetria das penas, eles estão voltando atrás.”
Para a secretária, a participação de artistas foi determinante: “Eu acho que isso foi uma coisa bacana também. O poder de mobilização que esses artistas ainda têm todos juntos foi emocionante. (…) Eu acho que essa mobilização no Rio com os artistas gerou uma onda que se espalhou até no Brasil.”
À frente da secretaria, Tati apresentou o projeto Rio AI City, que busca transformar a capital em polo de inteligência artificial. O plano prevê tanto a instalação de data centers movidos a energia limpa quanto o desenvolvimento de software local.

“A IA hoje é uma questão geopolítica. Então, a gente ter ferramentas soberanas de inteligência artificial para lidar com dados, por exemplo, dos cidadãos, é fundamental. (…) Se a gente consegue desenvolver ferramentas soberanas para trabalhar com esses dados, a gente se coloca num patamar de independência, de autonomia em relação aos big techs, que é muito significativo, muito importante, muito estratégico”, afirmou.
A proposta inclui ainda uma parceria com o governo federal para receber um dos cinco maiores supercomputadores do mundo, dedicado ao desenvolvimento de inteligência artificial. O Rio ofereceu terreno e usina solar para abrigar a máquina, que será fundamental para consolidar uma infraestrutura de ponta no país.
Outro pilar destacado por Tati é a formação: “A gente tem as naves do conhecimento, são 12 grandes, mas a gente criou um projeto de ter naves menores, que são as navezinhas cariocas e as naves satélites. Juntando tudo, a gente tem 35, espalhadas em lugares muito vulneráveis.” O objetivo é garantir inclusão digital e preparar jovens para o mercado tecnológico.
A entrevista terminou com reflexões sobre política internacional. Tati criticou o discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU: “O negacionismo para a extrema-direita é projeto. Desacreditar as mudanças climáticas, atacar a democracia, tudo isso, atacar o multilateralismo, atacar a própria ONU, que é uma coisa que ele também fez, isso é projeto para eles.”
Em contraste, ela destacou a posição de Lula no mesmo evento, chamando a atenção para a defesa do meio ambiente e da soberania nacional. Para a secretária, a diferença entre os discursos é sintomática do embate entre projetos políticos globais — um baseado no negacionismo, outro na construção de alternativas multilaterais.