
Uma foto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assistindo atentamente ao discurso de Lula na ONU circulou entre os membros da comitiva brasileira em Nova York. O gesto surpreendeu, já que pouco antes ele havia anunciado sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU) e juízes ligados ao combate aos atos de 8 de janeiro.
Segundo a coluna de Daniela Lima no UOL, Lula soube das sanções ainda no avião rumo a Nova York. Aliados dizem que ele ligou pessoalmente para Alexandre de Moraes e escalou o ministro Jorge Messias para transmitir solidariedade.
“Lula falou, Messias falou. Foi uma pancada muito forte, embora esperada… atacar familiares… O presidente sabe o que é isso”, relatou um auxiliar. Nem o Planalto nem o gabinete de Moraes confirmaram oficialmente a conversa.
Já em solo americano, Lula se reuniu com assessores próximos, entre eles Celso Amorim, Mauro Vieira e Ricardo Lewandowski, que ajudaram a revisar o discurso. O presidente endureceu o tom e classificou as sanções como uma ofensiva não apenas contra o Supremo, mas contra o Judiciário brasileiro como um todo. “É um ataque ao aparelho Judiciário do Brasil”, resumiu um integrante da comitiva.
Após a fala na Assembleia Geral, Lula encontrou Trump nos corredores da ONU. O republicano descreveu o encontro como marcado por “boa química”. Lula, no entanto, foi mais cauteloso, dizendo que houve cordialidade e um convite para conversar. Demonstrou ceticismo ao comentar que, se o encontro ocorrer nos Estados Unidos, só deve acontecer até quinta; depois, seria virtual.

O dia foi considerado um dos mais positivos de Lula no atual mandato. O presidente recebeu elogios públicos de adversários, foi cumprimentado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e interagiu de forma descontraída com jornalistas e dirigentes do New York Times. “Ele estava leve, estava bem, estava solto e se sentia reconhecido”, disse um aliado.
Em conversa com a imprensa americana, Lula reforçou a defesa do STF e da democracia brasileira. Também criticou a ofensiva de Trump contra universidades e a mídia, classificando-a como ameaça à imagem dos Estados Unidos como “terra da liberdade”.
Questionado sobre seu papel como líder de esquerda, respondeu: “Eu sou torneiro mecânico. E democrata. Estou tentando entender onde nós, os democratas, erramos”.
Lula também foi questionado sobre a guerra da Ucrânia e a situação da Venezuela. Chegou a se irritar com comparações entre ele e Jair Bolsonaro, mas reafirmou que o Brasil é um país pacifista e disposto ao diálogo. A reunião prevista com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acabou adiada e pode ocorrer em nova data.
No fim do dia, aliados definiram a passagem de Lula pela ONU como uma vitória política e diplomática. “Conhece: ‘Veni, vidi, vici [Vim, vi e venci]? Foi isso. Por hoje, está bom. Foi um grande dia”, ironizou um assessor próximo ao presidente.