
Por Miguel do Rosário, publicado no Cafezinho:
O levantamento mais recente da pesquisa Pulso Brasil/Ipespe, divulgado hoje, 25 de setembro de 2025, trouxe um dado inédito: pela primeira vez desde o início da série, em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresenta saldo positivo de aprovação. Como diz o jargão que os analistas de pesquisa usam nos EUA, Lula não está mais “debaixo d’água”.
Segundo o instituto, 50% aprovam o governo, contra 48% que desaprovam, o que resulta em um saldo de +2.
É a confirmação de uma tendência já registrada por outros institutos, mas com peso adicional por se tratar de uma pesquisa de referência, dirigida pelo cientista político Antonio Lavareda e realizada com 2.500 entrevistas híbridas (telefone e online).

Desde março, a evolução mostra recuperação constante: saldo de -13 em março, -14 em maio, -8 em julho e, agora, +2 em setembro. Na aprovação direta, Lula saiu de 41% em março para 50% em setembro. Trata-se de um movimento que reforça o cenário de estabilização política do governo em meio a um ambiente polarizado.


Quando se observa o recorte ideológico, o quadro é ainda mais revelador. Entre os que se identificam como de esquerda (28% do eleitorado), Lula tem aprovação quase unânime de 95%. No centro (18% do eleitorado), o presidente já conquista maioria: 49% aprovam contra 45% que desaprovam. Na direita (33%), apenas 10% aprovam e 88% rejeitam, mas esse pequeno percentual de apoio dentro de um campo hostil não deixa de ser significativo. Entre os que não se posicionam ideologicamente (21%), Lula também aparece à frente, com 53% de aprovação.
Por classe social, o presidente mantém apoio sólido entre os pobres (52%) e na classe média (51%), que o Ipespe considera como 55% da população. Já entre os ricos, apenas 16% aprovam e 84% desaprovam, confirmando rejeição quase absoluta em um estrato pequeno, mas influente.
O levantamento também mostra a avaliação das instituições. A Câmara dos Deputados registra um dos piores desempenhos: apenas 18% aprovam e 70% desaprovam. A queda é explicada pela repercussão extremamente negativa da chamada PEC da bandidagem, rejeitada de forma transversal, da esquerda à direita.

O Senado também aparece rejeitado, mas em menor grau. Já o Supremo Tribunal Federal apresenta recuperação: 46% aprovam e 44% desaprovam, com apoio maciço da esquerda (93%) e rejeição de 86% na direita. O dado reforça o alinhamento entre o governo e o STF diante das pautas que dividem o país.
Outro ponto central do levantamento é a discussão sobre a anistia. No geral, apenas 28% aprovam a anistia ampla, enquanto 18% defendem uma versão parcial. A maioria da população (46%) é contrária. O dado mais expressivo vem dos eleitores de Bolsonaro: 63% defendem a anistia geral, mas, ao sustentar uma pauta rejeitada pela maioria do país, acabam isolados politicamente. Como observamos, trata-se de um campo que se posiciona “do lado da derrota”, apoiando uma bandeira minoritária e impopular.

Entre os que se abstiveram no segundo turno de 2022, 59% são contrários à anistia. Ou seja, o tema não encontra respaldo nem entre os que se mantêm distantes da polarização. A rejeição é majoritária entre pobres, classe média e até mesmo entre os ricos, mostrando como a proposta não encontra lastro social.
A pesquisa foi realizada entre 19 e 22 de setembro, encerrando-se um dia antes do discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU. Isso significa que os números positivos já se consolidavam antes mesmo da repercussão internacional de sua fala, que foi vista como um contraponto direto ao tom agressivo do ex-presidente Donald Trump. Se os efeitos desse episódio tivessem sido captados, é provável que a aprovação aparecesse ainda mais elevada.
O quadro que emerge é claro: Lula inicia o último trimestre de 2025 em franca recuperação, sustentado pelo apoio popular e pelo isolamento das pautas bolsonaristas, como a anistia e a PEC da bandidagem. A pesquisa Ipespe mostra que o presidente atravessa um momento político favorável, em contraste com um Congresso fragilizado e sem conexão com a maioria da sociedade.
Íntegra dos 2 relatórios: um da aprovação geral e outro da anistia.