Ex-diretor do FBI é indiciado em meio a pressão de Trump para processar inimigos

Atualizado em 25 de setembro de 2025 às 22:55
Trump e James Comey em 2017

James Comey, ex-diretor do FBI, foi indiciado nesta quinta-feira por um crime de falsa declaração ao Congresso e outro de obstrução da justiça, no que é visto como mais um movimento da campanha do presidente dos EUA contra adversários políticos.

“Ninguém está acima da lei. O indiciamento de hoje reflete o compromisso do Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de cargos de poder e enganam o povo americano”, afirmou a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi.

Trump comemorou as acusações em postagem na Truth Social, chamando Comey de “um dos piores seres humanos que este país já conheceu” e exaltando a responsabilização pelos “crimes contra nossa nação”.

O indiciamento ocorre logo após Trump instruir Bondi a “agir agora” contra Comey e outros funcionários que considera inimigos políticos, em postagem direta nas redes sociais, ignorando a tradição de “independência” do Departamento de Justiça. As acusações foram apresentadas menos de uma semana depois da nomeação de Lindsey Halligan como principal promotora federal no distrito leste da Virgínia, substituindo Erik Siebert, que se recusou a processar Comey por considerar que não havia evidências suficientes.

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Trump pede a cabeça de Comey nas redes sociais e é atendido

O indiciamento, registrado na corte federal da Virgínia, acusa Comey de obstruir uma investigação do Congresso sobre divulgação de informações sensíveis e de fornecer declaração falsa ao FBI ao negar que tivesse autorizado um funcionário da agência a atuar como fonte anônima.

Uma terceira acusação foi solicitada pelos promotores, mas rejeitada pelo grande júri. O senador democrata Mark Warner afirmou que Trump tenta transformar o sistema de justiça em “arma para punir e silenciar críticos”, e classificou a interferência como abuso perigoso de poder.

O conflito entre Trump e Comey remonta ao início do primeiro mandato do presidente, quando Trump buscou um compromisso de lealdade do então diretor do FBI, que recusou. Comey liderava a investigação sobre a interferência russa nas eleições dos EUA, e foi demitido por Trump em maio de 2017.

Mais recentemente, ele foi investigado pelo Serviço Secreto após compartilhar e deletar um post enigmático nas redes sociais, que aliados de Trump interpretaram como incitação à violência contra o presidente, o que Comey negou.

James Comey publicou um vídeo em suas redes após seu indiciamento. “Minha família e eu sabemos há anos que existem custos em enfrentar Donald Trump, mas não conseguimos nos imaginar vivendo de outra forma. Não vamos viver de joelhos, e vocês também não deveriam”, disse.

“Alguém que amo muito disse recentemente que o medo é a ferramenta de um tirano. E ela está certa. Mas eu não tenho medo. E espero que vocês também não tenham. Espero, em vez disso, que estejam atentos. E que votem—como se o destino do seu amado país dependesse disso, porque depende. Meu coração está partido pelo Departamento de Justiça. Mas tenho grande confiança no sistema judicial federal. E sou inocente. Então vamos a um julgamento e mantenhamos a fé.”

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.