PEC da Blindagem causa racha entre Motta e Alcolumbre e trava pauta do Congresso

Atualizado em 26 de setembro de 2025 às 10:03
Davi Alcolumbre, presidente do Senado, e Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: Reprodução

A rejeição da PEC da Blindagem pelo Senado ampliou o distanciamento entre os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP). A crise ameaça paralisar pautas prioritárias do Congresso, incluindo a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, conforme informações do Globo.

A derrota da PEC, classificada pelo Planalto como “vergonha nacional”, deixou a Câmara isolada e gerou insatisfação entre deputados, que avaliam ter sido expostos a um desgaste desnecessário. Motta foi visto como o principal prejudicado no episódio, enquanto Alcolumbre se afastou da articulação.

Deputados reclamam que a proposta do IR, considerada prioridade de Motta, corre o risco de ficar “contaminada” pela crise. Em paralelo, o Senado aprovou um projeto alternativo relatado por Renan Calheiros (MDB-AL), ampliando a fissura entre as duas Casas.

Tentativa de apaziguamento

Mesmo diante das tensões, Motta buscou minimizar o embate: “O Senado se posicionou e bola pra frente. Temos um sistema bicameral, cabe aceitar. Não tem sentimento de traição nenhum. Já houve vários episódios em que a Câmara discordou do Senado. Isso é natural da democracia”, disse.

Na noite de quarta-feira (24), Motta e Alcolumbre estiveram juntos em jantar promovido pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, mas pouco interagiram. Uma reunião para recompor a relação, prevista após o evento, acabou cancelada.

Ciro Nogueira (PP-PI) tenta intermediar um encontro na próxima semana, mas interlocutores reconhecem que a desconfiança persiste e já respinga na pauta da anistia.

Críticas à liderança de Hugo Motta

Dentro da Câmara, aliados admitem que a estratégia falhou. Segundo um deles, a PEC deveria ter sido votada simultaneamente na Câmara e no Senado para evitar desgaste.

A condução do caso alimentou críticas ao estilo de liderança de Motta, acusado de ceder demais à influência de Arthur Lira e Ciro Nogueira. Para alguns, a fragilidade já vinha desde o motim de agosto e se intensificou com a blindagem.

Deputados próximos a Motta sustentam, porém, que havia acordo político entre Republicanos, União e PP, com aval de Alcolumbre, para aprovar a PEC. Senadores negam que o presidente do Senado tenha dado sua palavra final.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e Arthur Lira (PP). Foto: Reprodução

Pontos de embate

No entorno de Alcolumbre, aliados afirmam que o texto aprovado na Câmara destoava das negociações, especialmente em dois pontos polêmicos: a retomada do voto secreto para abrir ação criminal contra parlamentares e a ampliação do foro privilegiado para presidentes de partidos — emenda atribuída a aliados do União Brasil.

Com o Centrão irritado, líderes da Câmara ameaçam endurecer a pauta, colocando na mesa projetos como a PEC da Segurança e o calendário do IR. Aliados recomendam cautela e repetem que é hora de “colocar as barbas de molho”, apostando na mediação de Ciro Nogueira.

Apesar do clima tenso, há quem defenda que não interessa a deputados nem a senadores manter o Congresso em guerra aberta. A avaliação é de que a agenda legislativa depende de coordenação mínima entre as duas Casas.

Como gesto de distensão, o Senado pode avançar nos próximos dias com a PEC que limita decisões monocráticas do Supremo, vista como alternativa para restabelecer algum nível de cooperação, ainda que parcial.