Governo Trump ameaça revogar visto de Gustavo Petro após ato pró-Palestina em NY

Atualizado em 27 de setembro de 2025 às 5:35
Presidente Gustavo Petro, da Colômbia, durante discurso na Assembleia Geral da ONU. Reprodução

O governo de Donald Trump anunciou, na sexta-feira (26), que irá revogar o visto do presidente da Colômbia, Gustavo Petro. A justificativa apresentada foi de que o líder colombiano teria adotado “ações imprudentes e incendiárias” em Nova York, durante um ato pró-Palestina.

No protesto, Petro discursou ao lado do músico britânico Roger Waters e pediu que soldados americanos desobedecessem ordens do presidente dos Estados Unidos. “De Nova York, peço a todos os soldados do Exército dos Estados Unidos que não apontem seus fuzis para a humanidade”, declarou. “Desobedeçam a ordem do Trump. Obedeçam a ordem da humanidade.”

Além do discurso, o presidente colombiano afirmou que abrirá convocação para voluntários interessados em lutar pela “libertação” de Gaza. Ele acrescentou que estaria disposto a participar pessoalmente. “Se o presidente da República da Colômbia tiver de ir para esse combate, não me assusta, já estive em outros”, disse Petro, lembrando de sua trajetória como guerrilheiro do grupo M-19.

A reação de Washington foi imediata. Em publicação na plataforma X, o Departamento de Estado informou que Petro havia incitado militares a desobedecerem ordens e a estimularem a violência, decisão que motivou a retirada de seu visto. O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, chegou a ironizar a medida com uma imagem que o apelidava de “el quitavisas” (o tirador de vistos).

Presidente colombiano Gustavo Petro em ato pró-Palestina em NY. Foto: Bing Guan/Reuters

Até a madrugada deste sábado (27), nem o gabinete presidencial da Colômbia nem o Ministério das Relações Exteriores haviam se pronunciado sobre a decisão americana. Segundo a imprensa colombiana, Petro já estava em voo de retorno ao país no momento do anúncio.

As críticas do presidente colombiano a Trump não são recentes. Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, no dia 24, Petro acusou o republicano de ser “cúmplice de genocídio” em Gaza. Ele também defendeu que os Estados Unidos deveriam responder criminalmente pelos ataques com mísseis a embarcações suspeitas de tráfico de drogas no Caribe.

De acordo com Washington, esses ataques tinham como alvo barcos ligados a contrabando vindo da Venezuela. Já Bogotá contesta essa versão. Somente nas últimas semanas, 14 pessoas morreram em decorrência das ofensivas americanas na região.

A crise diplomática com Israel também intensificou o isolamento da Colômbia no cenário internacional. Desde 2024, Bogotá rompeu relações com Tel Aviv em protesto contra a ofensiva militar em Gaza. O conflito teve início após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.200 mortos em Israel e resultou no sequestro de 251 pessoas.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 65 mil pessoas morreram desde o início da guerra. Israel, por sua vez, mantém a justificativa de que atua em defesa de sua população contra o grupo armado, que é considerado terrorista pelos EUA e pela União Europeia.

Com a decisão de Trump, a relação entre Colômbia e Estados Unidos entra em nova fase de tensão. Petro reforçou sua posição crítica ao governo republicano, enquanto Washington classificou sua conduta como inaceitável para um chefe de Estado estrangeiro com visto de entrada no país.