Cidade cearense esvaziada por facções vive clima de abandono e medo

Atualizado em 27 de setembro de 2025 às 12:51
Famílias do distrito de Uiraponga, na cidade de Morada Nova, a 167 quilômetros de Fortaleza, foram expulsas por criminosos em meio a guerra de facções. Foto: Meu País Uiraponga/ Reprodução

O distrito de Uiraponga, em Morada Nova, no interior do Ceará, viveu um êxodo forçado e hoje se tornou praticamente um “território-fantasma”. A comunidade, que abrigava cerca de 300 famílias, foi esvaziada após disputas entre facções criminosas que passaram a ameaçar diretamente os moradores. Casas foram abandonadas, comércios fechados e serviços públicos interrompidos, transformando a rotina da região. Com informações do G1.

De acordo com a polícia, o conflito começou após José Witals da Silva Nazário, o “Playboy”, romper com a facção Guardiões do Estado (GDE) e se aliar ao Terceiro Comando Puro (TCP). Ele e o comparsa Márcio Jailton da Silva, o “Piolho”, travaram uma guerra contra o ex-aliado Gilberto de Oliveira Cazuza, o “Mingau”, que segue foragido. A disputa resultou em ameaças de morte e expulsão em massa dos moradores de Uiraponga.

Presos em julho, Witals e Jailton não impediram que o clima de insegurança permanecesse. Segundo investigações, o grupo não atacava apenas rivais, mas também utilizava o medo como estratégia de domínio sobre a população civil. Um relatório policial aponta que moradores eram pressionados por ligações, mensagens e recados diretos para abandonar suas casas sob risco de violência.

O impacto da guerra de facções foi reconhecido pela prefeitura de Morada Nova, que publicou decreto em agosto classificando a situação como “anormal e emergencial”. Escolas foram transferidas para outros locais, o posto de saúde deixou de funcionar regularmente e até serviços básicos, como limpeza urbana e iluminação pública, foram afetados. O documento autorizou medidas administrativas urgentes para garantir a continuidade mínima dos serviços.

Aliados, José Witals (esq.) e Márcio Jailton (dir.) estão presos e, segundo inquérito da polícia, disputam território com Gilberto Cazuza. Foto: Arte/g1

A Secretaria da Segurança Pública informou que mantém operações permanentes na região, com presença da Polícia Militar, Força Tática, CPRaio e Cotar. Em setembro, a operação “Regnum Fractus” cumpriu mandados de prisão e busca, resultando em apreensão de celulares. Apesar disso, especialistas afirmam que o enfrentamento segue focado na repressão imediata, sem estratégias estruturais de prevenção e inteligência.

Para o sociólogo Raul Thé, do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Conflitualidade e Violência da Uece, Uiraponga simboliza o avanço das facções em várias partes do Ceará. Ele defende que o Estado adote medidas preventivas e estruturais, garantindo segurança e condições de retorno para as famílias. Atualmente, poucas residências permanecem ocupadas, em sua maioria por idosos que não tiveram como sair, em meio a uma realidade de medo e abandono.