Petro responde à revogação de seu visto pelos EUA: “Trump, não se cerque de genocidas”

Atualizado em 27 de setembro de 2025 às 11:15
Os presidentes Donald Trump, dos EUA e Gustavo Petro, da Colômbia – MANDEL NGAN, RAUL ARBOLEDAAFP

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reagiu à decisão do governo dos Estados Unidos de revogar seu visto. Em longa declaração, publicada nas redes sociais, ele atacou Donald Trump, criticou a política externa norte-americana, falou sobre genocídios na Colômbia e em Gaza e afirmou que não precisa da autorização para entrar no país. Abaixo, a íntegra da resposta:

A Humanidade está contra o genocídio e, na Colômbia, houve um genocídio contra o povo, quando alguns conservadores fascistas ordenaram que, a sangue e fogo, era preciso derrotar os liberais; e o genocídio continuou depois, aliado ao narcotráfico.

Nunca, em nenhum país do mundo, houve um controle da máfia sobre o Estado tão grande quanto o colombiano; nunca, jamais, em nenhum país do mundo, a máfia pôde fazer tantas leis e matar, a partir do próprio poder do Estado, centenas de milhares de camponeses e jovens.

Nunca, em nenhum lugar do mundo, a máfia conseguiu desalojar de suas terras milhões de camponeses. A governança narcotraficante que se construiu na Colômbia foi genocida.

Luis Carlos Galán denunciou isso e o assassinaram por isso. Aquele Galán que conheci pessoalmente, quando eu era jovem combatente do M19 — a quem disse que éramos irmãos — deve reviver na voz de seu ancestral, o comunero José Antonio Galán, esquartejado pelos castelhanos por ser rebelde.

Os responsáveis por esse genocídio tentam se abrigar sob o senhor, Trump, porque acreditam que o senhor protege os genocidas. Não se cerque de genocidas.

A humanidade pede que cesse o crime contra a humanidade em Gaza. Os israelenses viveram um ato de terror contra sua juventude num concerto, e houve mortos que não deveriam ter ocorrido. Mas a resposta não deve ser um crime contra a humanidade. Não podemos permitir que matem bebês em Gaza.

Sua esposa, senhor Trump, ou suas filhas, deveriam lhe dizer que não está certo matar bebês. Minhas filhas me dizem isso.

Respeito sua família e disse ao senhor que tomaria um uísque, apesar da minha gastrite, em sua casa ou na minha, ou onde o senhor quiser, mas falando olho no olho, entre iguais, como homens e sem mentiras. O senhor não me respondeu.

Livre-se das ideias equivocadas de seus conselheiros; veja a humanidade com clareza e o que acontece. Não se faz um grande país matando bebês indefesos.

Agora vão transformar em crime a minha opinião livre e humana. O senhor sabe que as leis internacionais me dão imunidade para ir à ONU e que não deve haver represálias por minha opinião livre, porque sou um ser livre.

Não devem cair mísseis sobre a população civil de Gaza. Não devem cair mísseis sobre os jovens pobres a serviço do narco ou sobre os camponeses que procuram sobreviver. Não devem cair mísseis sobre os migrantes que saem porque não suportam a pobreza. Os migrantes não são criminosos e não merecem pena de morte; fazê-lo é um crime contra a humanidade.

Afaste-se, Trump, de Hitler — ainda há tempo. Eu rezei pelos soldados dos EUA que, na batalha da Linha Gótica, perto de Florença, a cidade do Renascimento, na Itália, morreram pela liberdade. Orei em seu cemitério de campanha.

Não mate a liberdade; meus ancestrais viveram há 30.000 anos na América e construíram línguas, arte e civilização. Seus ancestrais chegaram há apenas um século, mas isso não importa; o senhor é bem-vindo na América, terra da liberdade, e no país de Bolívar: a Grande Colômbia. Não se proibirá que qualquer cidadão dos EUA entre porque somos livres. Mas nenhum criminoso de guerra, muito menos um criminoso contra a humanidade, entrará.

Não mais Auschwitz, por petróleo; no meio dos negócios, há tempo para o amor e para a humanidade, diz a Bíblia.

Libere-se, Trump, dessa escravidão que perdurará por gerações.

Digo — e não é crime — que não se obedeçam as vozes que ordenam aos seus exércitos disparar contra a humanidade.

Sou, além de colombiano e orgulhoso do meu país, que amo por sua enorme beleza tropical, seu mar, suas montanhas e suas culturas, tão belas como a natureza, um cidadão europeu. Não preciso de seu visto, mas irei somente quando for convidado por seu povo.

Nem sequer preciso viajar; a Colômbia é o coração do mundo, e em suas terras há seres humanos que têm em suas veias todos os povos do mundo, e posso distinguir seus ancestrais. Posso conhecer o mundo viajando pelo meu país.

Antes de sair de Nova York, entrei em um centro comercial, e as mulheres negras e brancas dos EUA colocavam a mão no peito quando me viam e me reconheciam — povo lindo e livre; não o amedronte com fuzis, senhor Trump. Bolívar disse: maldito o soldado que levanta a arma contra seu povo; eu lhe digo: não ordene levantar as armas de seu exército contra a humanidade, porque a humanidade responderá.

Se há um crime contra a humanidade, a humanidade deve responder, e a Colômbia com Bolívar responde.

Nem um passo atrás.