Estadão: Brasil ganha com derrota do bolsonarismo

Atualizado em 29 de setembro de 2025 às 6:25
Editorial do Estadão desta segunda-feira (29) faz duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Fotomontagem

O editorial do Estadão publicado nesta segunda-feira (29) intitulado “O Brasil ganha quando o bolsonarismo perde” abordou o enfraquecimento do bolsonarismo após sucessivos reveses políticos e judiciais. O texto destacou que a crise envolve tanto fatores externos quanto erros do próprio grupo e avaliou que a sequência de derrotas abriu espaço para o Brasil vislumbrar a possibilidade de superar essa força política. Confira trechos:

“O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu fiel amigo blogueiro, Paulo Figueiredo, e outros empedernidos soldados bolsonaristas até que tentaram disfarçar o desconforto e entoar uma mensagem triunfante, mas os últimos dias sacramentaram uma tendência inquestionável: a sucessão de derrotas políticas deixou o bolsonarismo ainda mais enfraquecido e isolado. Pode-se atribuir seus reveses a uma suposta perseguição política do Judiciário, a uma eventual traição do Centrão, ao nono círculo do inferno de Dante, a uma maré de azar ou aos efeitos tardios do Mercúrio retrógrado passado, mas nada disso esconde o essencial, isto é, está-se diante de uma espiral descendente que atormenta o bolsonarismo. E quando este perde, é o Brasil que ganha.” (…)

Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Foto: Reprodução

“Mas houve mais. As mais recentes manifestações de rua, por exemplo, mostraram o tamanho da insatisfação dos brasileiros contra a blindagem de parlamentares ante investigações criminais e a concessão de anistia ‘ampla, geral e irrestrita’ a Jair Bolsonaro e outros golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se é um erro reduzir os protestos a um triunfo da esquerda, também é um erro negar que o número de manifestantes em todas as capitais no fundo mostrou que Bolsonaro não é mais senhor das ruas. A eloquência da reação popular arrefeceu ainda mais o entusiasmo do Congresso para a anistia – uma agenda que já deveria estar sepultada – e para proteger a si mesmo.” (…)

“O infortúnio parece evidente e não é fruto apenas das circunstâncias externas. É resultado sobretudo dos próprios erros e da fadiga nacional com esses inconformados com a democracia. Recorde-se que Bolsonaro se elegeu num tsunami conservador e antissistema. Entre outras bandeiras, propunha o amor à Pátria contra a ordem globalista que violava a soberania nacional e a rejeição à velha política, vista como corrupta. Acreditou quem quis. Em sua cruzada, trabalhou para minar a Justiça Eleitoral, sucumbiu à velha política, atacou a democracia, tentou dar o golpe e foi vencido, limitado pelos diques de contenção das instituições democráticas. A partir daí, o bolsonarismo se restringiu a uma pauta única: livrar o seu principal líder do julgamento e da cadeia. Nada mais lhe importa – nem mesmo a Pátria.”