Cachaça brasileira some do mercado dos EUA após tarifaço de Trump

Atualizado em 29 de setembro de 2025 às 13:48
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante anúncio do tarifaço. Foto: Carlos Barria/Reuters

A cachaça brasileira enfrenta um dos momentos mais críticos de sua história recente nos Estados Unidos. O tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump sobre o destilado fez pedidos serem cancelados, negociações suspensas e vendas praticamente paralisadas.

O impacto atinge diretamente o mercado mais lucrativo para os produtores brasileiros, agora ameaçado de exclusão. Os EUA ocupam a terceira posição entre os maiores importadores de cachaça em volume, atrás apenas de Paraguai e Alemanha.

Porém, quando se trata do valor pago por litro, lideram o ranking: os americanos desembolsam até 96% acima da média global, impulsionando a categoria premium do destilado. Essa diferença torna o país estratégico para exportadores de pequeno e médio porte.

Um dos casos mais emblemáticos é o da Cachaça da Quinta, de Carmo (RJ). Fundada em 1923, a empresa tem metade de sua produção destinada aos EUA sob a marca Avuá. “Somos uma empresa de pequeno porte, voltada para um produto premium. Tem sido um impacto violento, porque afeta completamente a operação”, disse a proprietária Katia Alves Espírito Santo à Folha de S.Paulo.

Segundo ela, a redução de pedidos obrigou a cortar a produção. “Meu medo é perder um trabalho que começou a ser feito há mais de dez anos. Tivemos de reduzir a produção, porque muitos pedidos pararam. Ainda não sei como vai ficar”, afirma.

Katia Alves Espírito Santo, proprietária e produtora da Cachaça da Quinta. Foto: Reprodução

O setor já acionou o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que analisa medidas de apoio às empresas. Em 2024, os EUA importaram 824 mil litros de cachaça, movimentando US$ 3,6 milhões. Embora represente uma fração da produção nacional (estimada em 800 milhões de litros anuais), trata-se de um mercado importante para centenas de pequenos produtores.

Segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o setor reúne 1.200 fabricantes, responsáveis por 7.223 marcas e 600 mil empregos diretos e indiretos. O diretor-executivo do instituto, Carlos Eduardo Cabral de Lima, avalia que a sobretaxa pode reduzir em 12% o faturamento das exportações e em pelo menos 6% o volume enviado aos EUA.

“A baixa competitividade diante de outros destilados significa, no médio prazo, a exclusão da cachaça do mercado americano. O que está em jogo é a sustentabilidade de milhares de pequenos produtores”, alertou o diretor.

Para enfrentar a crise, produtores têm recorrido ao Programa Brasil Soberano, criado para apoiar exportadores afetados pelas tarifas. A linha emergencial, com R$ 40 bilhões disponíveis, oferece crédito para capital de giro e investimentos. “É um socorro do governo, que já dá um alento, enquanto essa situação não se resolve de forma definitiva”, afirmou Katia.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.