VÍDEO: Presidente da Conafer é preso por falso testemunho após depoimento na CPMI do INSS

Atualizado em 30 de setembro de 2025 às 6:44
Carlos Lopes, presidente da Conafer, na CPMI do INSS. Foto: reprodução

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS determinou a prisão do presidente da Confecção Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, no início da madrugada desta terça-feira (30). A decisão ocorreu após o depoimento de Lopes que se estendeu por aproximadamente nove horas na segunda-feira (29), em que ele foi acusado de mentir deliberadamente aos parlamentares.

Esta é a segunda prisão determinada pela comissão, seguindo a detenção do ex-diretor financeiro de empresas do Careca do INSS, Rubens Oliveira, na semana anterior. O presidente da CPMI, Carlos Viana (Podemos-MG), fundamentou o pedido de prisão após os membros da comissão solicitarem por cinco vezes a detenção do presidente da associação.

“Durante essa sessão, ficou constatado que o decorrente omitiu informações deliberadamente, entrou em contradição em várias delas e, ao ser questionado novamente pelo relator e por membros desta comissão, manteve as afirmações. Essas contradições configuram mentira deliberada e ocultação de informações com intuito de prejudicar as investigações dessa comissão”, declarou Viana em sua fala final.

Lopes foi preso por ter deposto como testemunha sem apresentar habeas corpus preventivo que o protegesse de falar com a comissão ou de ser preso. No entanto, ele pagou fiança e foi liberado ainda na madrugada desta terça-feira, mas o valor não foi divulgado.

O relator da CPMI, Alfredo Gaspar (União-AL), identificou Lopes como um dos principais articuladores do esquema fraudulento que desviou recursos de aposentados e pensionistas.


“Hoje, a gente descobriu outro Maurício Camisotti, se chama Carlos Roberto Ferreira Lopes. Pelas mãos da Conafer passaram mais de R$ 800 milhões, aqui nós descobrimos que R$ 140 milhões foram direcionados diretamente para o assessor dele, Cícero Marcelino”, afirmou Gaspar durante os trabalhos. O relator comparou a atuação de Lopes à de Maurício Camisotti, um dos principais investigados no esquema.

Durante o interrogatório, o relator questionou Lopes sobre as relações estruturais das empresas vinculadas à Conafer. Um dos pontos centrais foi a relação com Cícero Marcelino, considerado pela comissão como o principal auxiliar de Lopes e operador do esquema. Ao ser questionado sobre a identidade do sócio de uma das empresas, Lopes afirmou desconhecer, mas quando informado que Marcelino seria o proprietário, não negou o fato.

“O Cícero nunca foi funcionário da Conafer. O Cícero sempre foi um fornecedor de bens e serviços da Conafer por mais de 15 anos. E pegou essa pecha aí de falar que era assessor – assessor são os egos da amizade, né? Como nós todos vimos aqui. É o querido, é o amigo”, justificou Lopes.

Cícero Marcelino foi apontado pelo relator como um dos proprietários da Santos Agroindustria Atacadista e Varejista, empresa que recebeu R$ 100 milhões da Conafer ao longo dos anos.

Lopes defendeu as transações: “Foram produtos necessários para a realização dos feitos por essas entidades no Brasil todo. Nós tivemos locações de veículos, compra de sêmen, compra de insumos para realização de melhoramento genético, tivemos também fornecimento de brinquedos para o Natal de 23, 24, onde demos mais de 300 mil brinquedos para as crianças neste país. São vários insumos”.

De acordo com registros da Receita Federal, a empresa não está formalmente no nome de Marcelino, mas compartilha o mesmo endereço de outra empresa dele em Presidente Prudente, São Paulo.

A investigação também revelou que Marcelino e Lopes são sócios em uma empresa offshore localizada em Delaware, nos Estados Unidos. Sobre essa sociedade, Lopes explicou: “A fintech era para otimização da bancarização do nosso setor e melhor cobrança de mensalidades por parte da Conafer”.

No entanto, quando questionado pela deputada federal Bia Kicis sobre quantas empresas brasileiras ele era sócio, Lopes afirmou ser apenas da Conafer, omitindo que according to a Receita Federal, ele ainda aparece como sócio-administrador de outras duas empresas, uma em São Félix de Minas (Minas Gerais) e outra em Brasília.

Documentos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de outubro de 2020 revelaram que durante a pandemia de Covid-19 a Conafer incluiu novos descontos de forma anormal. O documento da Diretoria de Benefícios solicitou a rescisão do Acordo de Cooperação Técnica com a entidade após constatar que a Conafer registrou 95.818 novos associados em apenas quatro meses, entre abril e agosto de 2020.

“A entidade incluiu descontos em 95.818 benefícios previdenciários no período compreendido entre 04/2020 e 08/2020, número que exige a colheita de mais de 630 autorizações diárias”, destacou o documento.

O INSS argumentou que a Conafer justificou a impossibilidade de fornecer documentos sobre descontos impróprios alegando o fechamento de suas representações estaduais devido à pandemia.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.