Tarcísio nega elo das mortes por metanol com PCC: o que ele quer esconder?

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 10:31
Tarcísio em coletiva sobre as mortes por metanol em SP

Enquanto cresce o número de mortos e internados por ingestão de bebidas adulteradas com metanol, o governo paulista procura descartar a ligação com o Primeiro Comando da Capital, o PCC.

Antes mesmo do aprofundamento das investigações, o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas disse em coletiva que “não há evidência nenhuma de que exista crime organizado nisso. As pessoas que estão trabalhando com adulteração nessas destilarias clandestinas não têm relação com o crime organizado e não têm relação entre si”.

Já o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), afirma categoricamente que está “completamente descartada a hipótese do PCC”.

Ora, como eles sabem?

É o mesmo Tarcísio que, no dia da votação em segundo turno para a prefeitura de São Paulo, em 2024, garantiu que obteve informações de uma “ação de inteligência” de que teria havido um “salve” do PCC orientando o voto em Guilherme Boulos. A declaração foi dada em resposta a jornalistas no colégio Miguel Cervantes, na zona sul.

Processado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social, foi absolvido pelo juiz Antonio Maria Patiño Zorz.

Do outro lado, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, deixa claro que a PF apura justamente esse viés, conectando os casos de intoxicação a operações anteriores no Paraná e em São Paulo, envolvendo a importação ilegal de metanol pelo Porto de Paranaguá.

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levantou a suspeita de que o mesmo metanol contrabandeado pelo PCC para adulterar combustíveis pode ter sido revendido a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas.

Ou seja, os tanques lacrados após recentes operações contra distribuidoras de fachada ligadas ao crime organizado podem ter sido “escoados” em outro mercado ilegal — com resultado letal.

Os indícios não surgem do nada. Em agosto, a maior megaoperação já realizada contra o PCC flagrou combustíveis em São Paulo com até 90% de metanol, quando o limite legal é de apenas 0,5%. Agora, diante da onda de intoxicações em bares e festas, a ligação entre os dois mercados clandestinos — combustíveis e bebidas — parece, no mínimo, plausível.

Ainda assim, Tarcísio e Derrite apressam-se em blindar o PCC. Qual o interesse em negar de imediato uma hipótese que a Polícia Federal, em cooperação com o Ministério da Justiça, considera relevante?

Enquanto o governo paulista insiste em minimizar as conexões, a realidade é dura: três mortes já foram confirmadas por envenenamento com metanol na Grande São Paulo. Outras estão em investigação. Para famílias devastadas pela tragédia, ficam evidentes o descaso e a incompetência de Tarcísio, que passa mais tempo em Brasília costurando a anistia que no estado que o elegeu.

O legado dele é esse: cegueira, intoxicação e morte.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.