Isenção do IR até R$ 5 mil: por que proposta ainda não saiu do papel?

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 16:02
Aplicativo da Receita Federal em celular. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e cria desconto parcial até R$ 7.350 deve ser votado no plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta (1º). A proposta é uma das principais bandeiras econômicas do governo Lula, mas enfrenta disputas em torno da compensação da perda de arrecadação, estimada em R$ 25,8 bilhões já em 2026.

O texto, relatado por Arthur Lira (PP-AL), prevê que a renúncia seja compensada com três medidas: imposto mínimo progressivo de até 10% para rendimentos mensais acima de R$ 50 mil, taxação de dividendos superiores a R$ 50 mil por mês e tributação de remessas de lucros ao exterior.

Segundo o Ministério da Fazenda, apenas 0,13% dos contribuintes seriam atingidos, grupo que hoje paga em média 2,54% de IR. Na prática, quem recebe até R$ 5 mil ficaria totalmente isento, enquanto rendimentos entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350 teriam desconto parcial.

Hoje, a faixa real de isenção alcança quem ganha até R$ 3.036 por meio do desconto simplificado. O governo calcula que cerca de 16 milhões de pessoas serão beneficiadas, com ganhos que variam de mais de R$ 1 mil a quase R$ 4 mil por ano, dependendo do salário.

Câmara dos Deputados. Foto: Laycer Tomaz/Agência Câmara

O impacto fiscal da medida é alto: R$ 25,8 bilhões em 2026 e mais de R$ 100 bilhões até 2028. A conta é alvo de resistência da equipe econômica, que teme desequilíbrio nas contas públicas. Esse ponto será decisivo nas negociações finais com o Congresso.

O texto já recebeu 53 emendas de deputados, que podem alterar pontos relevantes. Entre elas, a possibilidade de corrigir automaticamente a tabela do IR pela inflação anual. Também há pressão para retirar debêntures de infraestrutura da base de cálculo do imposto mínimo sobre altas rendas.

Outra ponto que gera divergência é a tributação de dividendos acima de R$ 50 mil mensais. Algumas emendas pedem ajustes para evitar efeitos colaterais sobre pequenas e médias empresas, além de discutir como será feito o ajuste anual. O relator sinalizou abertura para negociar esses detalhes.

Enquanto isso, o Senado avançou com um projeto semelhante, relatado por Renan Calheiros (MDB-AL), aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos. Se o texto aprovado na Câmara for alterado na segunda Casa, voltará para nova deliberação dos deputados antes de seguir para sanção presidencial. 

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.