Israel sequestra flotilha com brasileiros que levava ajuda humanitária a Gaza

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 17:04
Membros da flotilha com ajuda humanitária para Gaza passam perto da ilha de Creta. Foto: Eleftherios Elis/AFP

A flotilha humanitária Global Sumud, com cerca de 40 embarcações e 500 voluntários a bordo, foi cercada por navios militares de Israel quando se aproximava da Faixa de Gaza. A missão levava ajuda humanitária ao enclave palestino e pretendia atracar na manhã desta quinta-feira (2).

Entre a tripulação estavam brasileiros como o ativista Thiago Ávila e três militantes do PSOL: Nicolás Calabrese (Rio de Janeiro), Gabi Tolotti (Rio Grande do Sul) e Mariana Conti (vereadora em Campinas). Eles estavam acompanhados por franceses, portugueses e italianos.

Os membros do PSOL gravaram um vídeo para ser publicado caso eles fossem sequestrados pelas forças militares israelenses. “Se você tá assistindo esse vídeo agora, é porque nós fomos interceptados e sequestrados contra nossa vontade”, diz Mariana Conti. “Eu estava levando ajuda humanitária de forma completamente legal e pacífica, sem armas”, afirma Nicolás.

Segundo relatos de tripulantes, Israel interceptou os barcos Alma e Sirius, que levavam ativistas como a deputada francesa Marie Mesmeur. O jornalista Lorenzo D’Agostino, da Reuters, relatou ter visto com seus próprios olhos a ação contra o Sirius. As comunicações foram cortadas, e os organizadores denunciaram que câmeras e transmissões ao vivo foram desligadas à força.

Durante a noite, drones e embarcações fizeram manobras ao redor dos ativistas em uma tentativa de “intimidação”, segundo as vítimas. De acordo com Ávila, havia risco de colisão e israelenses tentaram criar uma “guerra psicológica” com as tripulações.

A Anistia Internacional pediu a proteção da flotilha e classificou a rota como “área de alto risco”. A organização argumentou que os Estados têm responsabilidade em garantir a passagem segura de embarcações com bandeira estrangeira em águas internacionais.

A relatora da ONU (Organização das Nações Unidas) para territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, também criticou a ação israelense, afirmando que as águas de Gaza não estão sob soberania de Israel.

Fontes militares de Israel afirmaram ao jornal Haaretz que a flotilha violava o bloqueio naval imposto sobre Gaza. O governo local alegou que os ativistas estavam envolvidos em uma “provocação Hamas-Sumud” e propôs que a ajuda fosse entregue em portos de países vizinhos, como Chipre ou Egito.

O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, afirmou que os barcos foram cercados e seriam transferidos para o porto israelense de Ashdod. Cada país, segundo ele, deveria se responsabilizar por seus cidadãos após a detenção. Informações de bastidores apontam que até 600 policiais poderiam ser mobilizados para deter e deportar os ativistas.

No Sirius, viajavam cinco brasileiros, enquanto o Alma era liderado por tripulantes franceses e palestinos. Outras embarcações, como o Adara, transportavam ativistas portugueses, como Miguel Duarte e Mariana Mortágua, além da atriz Sofia Aparício. Familiares confirmaram nas redes sociais que perderam contato com parte da delegação após a abordagem.

A Turquia, diante do risco de confronto, retirou 11 ativistas de sua nacionalidade que participavam da missão. Espanha e Itália, que haviam enviado embarcações de apoio, informaram que não participariam de operações militares e encerraram a escolta a cerca de 150 milhas de Gaza.

Portugal também se posicionou: o primeiro-ministro Luís Montenegro pediu cautela e afirmou que diplomatas portugueses estão em contato com países parceiros. Israel, por sua vez, justificou a operação como parte de sua política de segurança e reforçou que não permitirá que embarcações rompam o bloqueio a Gaza.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.